sábado, 24 de fevereiro de 2018

CONVERSA PARA BOI ACORDAR
(Entrevista com Flúvio Penaforte, editor do Jornal Nenhum)
Poesia para adultos. Poesia para a infância. Contadora de Histórias para adultos e para a infância. Inventora de brinquedos poéticos. Poeta frequentante de Saraus. Mulher. Filha. Amante. Irmã. E coisas e tal. Afinal quem é Giselle Ribeiro?
- Um espirro solto dentro de um coletivo em dia de chuva. Sabe, quando o transporte está todo fechado, abafado e o espirro se espalha pra todo lado. Sou eu. Eu sou um espirro grudante e indesejado para as coisas muito certas.
Hoje mesmo eu li uma mensagem no whats app, me dizendo que eu sou pervertida. Fui ver Pervertida no dicionário:
2. transitivo direto
efetuar alteração em; mudar.
Gostei disso, eu sou pervertida. Eu quero efetuar alteração nas cabeças. Eu quero mudar os conceitos de lugar. Apagá-los, talvez.
Ouvi dizer que teu 2018 tem promessas...
- Eu não sei, não frequento mais igrejas.
Você parece sempre esconder o jogo...
- Eu não jogo. Não na vida, só na poesia. Quanto ao que dizem, você tem sessenta e nove chance de erros. Estou querendo dizer que vem outro livro de poemas eróticos por ai. Um livro que foi premiado. Para a minha surpresa, porque erotismo e voz de mulher é uma questão de não rimar, nem remar nesse nosso mundo feito para os machos. Então, acho que avançamos um passo, um tímido passo. Digo isso porque sempre que vou a um sarau e solto o verso envenenado do amor, tem sempre um achando que eu estou querendo comer alguém, mas eu falo pela voz de muitas. Eu sou muitas. Eu sou o silêncio quebrando o vidro de algum copo de azeitona. Copo de azeitona é bem mais resistente que cristal. Mulheres não são cristal.
Mulheres não são cristal. Você reafirma que é muito mais que uma e eu também ouço falar por aí que você vai publicar um livro infantil? Que faz oficina de brinquedos poéticos para adultos e crianças? Quantas vivem em você afinal?
- Agora eu sou essa que te fala sem poesia. Sou também aquela que não trama uma invenção maior, querendo só ficar quieta no meu canto, até você bater à minha porta para me cutucar. Sr. Penaforte hoje eu deveria não falar com ninguém! Mas já que eu abri a porta... Devo estar nas prateleiras com o Livro ilustrado de poemas desbocados (para adultos) e vou estar em uma nova aparição com um livro infanto-juvenil: A princesa sem dons para tamanha felicidade, pela editora Paka Tatu. Isso porque tenho um bocado de gente me habitando, querendo falar e eu deixo elas e eles terem o direito do dizer de si. Mas é só isso, porque eu sou eu e, boi não lambe.
Você acredita em inspiração?
- Eu acredito em inspiração, tanto quanto em transpiração. Porque escrever poeticamente, para mim, é isso. A gente inspira as coisas todas e depois transpira, joga para fora só uma parte dessa coisa toda. Entende? Alguém me disse que não conseguia mais escrever, já fazia um bom tempo e estava angustiada. Eu fiquei pensando nas nossas experiências com a escrita poética. Achamos que podemos determinar o dia, o tempo. Às vezes dá certo, mas nem sempre. Por uma questão simples, poesia às vezes é hemorragia, às vezes só um acidente vascular, chega de surpresa e é morte certa. É quando ela diz: Aqui quem manda sou eu.
Agora Flúvio, vamos tomar um chá? Cansei de falar.