quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
SOLUÇÕES PARA BORDADOS E COSTURAS
"..., com o teu falo
eu me calo." (1)
Passado o tempo do bordado e da costura, elas iam para os seus quartos servir aos seus Senhores, e os gozos eram mais roucos, mais graves, muito mais másculos. Às mulheres eram destinadas, apenas, alguns pequenos gritos, vindos de um dedo furado quando costuravam sem dedal.
"A mãe faz tricô
O filho vai à guerra
Tudo muito natural acha a mãe
E o pai que faz o pai?
Negocia..." (2)
Essa é a fotografia escrita da época de um poeta chamado Jacques Prévert (1900-1977), mais um poeta francês comprometido com as denúncias. Mais um olho que tudo vê e registra a separação da raça humana.
"Tudo muito natural acha a mãe". A presença do artigo definido, marca aquela mãe e, deixa outras do lado de fora gritando por seus direitos, gritando pelo direito de também gozar de uma vida mais plena. Sem costura, sem bordado, sem dedal elas vão às ruas e acham isso "tudo muito natural".
Se os gregos, na antiguidade, celebravam o culto ao falo com hinos licenciosos preparando o caminho da liberdade de expressão literária, pois que esse caminho seja sempre lembrado para que os bordados e costuras sejam feitos de outra forma, muito mais próximos do tempo de costurar uma bela história da sexualidade humana.
Pois que esse seja o nosso destino, longe, bem longe daquela mãe que só fazia tricô, achando tudo muito natural, encontramos uma mulher grega sem dedal costurando a história que hoje queremos viver. Assim Safo de Lesbos costurava a história da nossa sexualidade:
ALÍVIO
Enfim, cara, vieste - e bem. Com
ânsia te esperava - e muito. Que
saíbas: em minha alma acendeste
um fogo que a devora. (3)
Para aquela mãe na fotografia escrita por Jacques Prévert, é como se a sexualidade fosse guardada em um fruto com uma casca protetora resistente. Então podemos dizer que a sexualidade humana estaria guardada no fruto da nogueira e a lírica de Safo e tantas outras mulheres poetas que cantavam o amor em liberdade, seria o Quebra-Nozes.
Quando a voz feminina do gozo rompe as quatro paredes e grita de prazer, ainda que as luzes estejam acesas, podemos dizer que a lírica Quebra-Nozes tem assim, o seu momento de repouso e de direito. E é quando damos à Afrodite, o que é de Afrodite.
1. 69./ Giselle Ribeiro - Belém, 2009
2. Poemas / Jacques Prévert: introdução, seleção dos poemas e tradução de Silviano Santiago. - Rio de Janeiro: Nova Fronteria.
3. Safo de Lesbos / Tradução direta do grego de Pedro Alvim. - São Paulo: Ars Poetica, 1992.
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