
“Se treinamos nossa consciência, ela beija enquanto nos morde.”
Não, não foi em vão que Freud disse: “Seja qual for o caminho que eu escolher, um poeta já passou por ele antes de mim” ou lembrando Nietzsche: “A arte assume acessoriamente a tarefa de conservar o ser, até mesmo de dar um pouco de cor a representações extintas e empalidecidas, quando cumpre essa tarefa, tece um laço em volta de diferentes séculos e faz reaparecer os espíritos [...], mas pelo menos por instantes desperta mais uma vez o velho sentimento e o coração bate a uma cadência de outro modo esquecida.”
E acreditando no que foi dito, podemos dizer que a literatura não tem fronteiras, nela cabe o ser na sua totalidade: social, psicológica, moral, religiosa entre tantos outros aspectos.
Quanto a mim, não imagino a existência de uma porta que a literatura não possa bater. Não imagino a existência de uma mesa que não possa servir literatura aos que dela têm fome. Não imagino a existência de um só jardim onde a literatura não possa germinar.
Imagino sim, que ainda há emoção para sentir, e ouvidos para ouvir o enorme ruído da literatura mudando o homem.
E apesar de tantos esforços em tentar fugir, a literatura nos pega em uma das esquinas desta vida e nos diz da cegueira branca da qual, em tempos de pós-modernidade, somos prisioneiros por vontade, e estupidamente abatidos nos deixamos levar por ela, como nos prevenia o mago Saramago.
Mas se, por acaso, ou destino, fizermos da literatura uma aliada e a ela nos permitimos a total entrega, Cléo Busatto anuncia o próximo ato, quando as cortinas não mais se fecham e a cegueira se faz curada, a literatura, diz Busatto: "Acaricia e acolhe. Quando se leva a palavra para ouvintes disponíveis a recebê-la, ela se torna palavra-força."
NIETZSCHE, Friedrich. Além do bem e do mal. p.65, 2005
_______________________. Humano, Demasiadamente Humano. p.126.
BUSATTO, Cléo. Práticas de oralidade na sala de aula. .p.16, 2010.