Jamais fui Gustav Klimt, embora naquele dia tivesse me vestido para ser dele, para ser a sua Adele ou um jardim florido feito para mais um retrato.
Mas naquele dia eu estava deitada entre os lençóis das obrigações escolares, a obediência de te beijar com tempo certo e depois de tudo ter que contar a notícia para uma classe inteira.
Naquele dia eu preferia ser um quadro
na parede da escola. Naquele dia eu queria muito ser só “O beijo” de Klimt ou o
“O Retrato de Adele Bloch-Bauer” e permanecer
só ali, na parede da escola, insinuando não dizer nada e ao mesmo tempo dizendo
tanto.
Mas sempre fui obediente e me
tranquei no quarto contigo e deitados experimentamos nos tocar. Passei a língua
nos dedos e extasiada virava os olhos no movimento das tuas páginas também viradas.
E com o forte propósito de não mais te largar, para que outras não pousassem os
olhos de desejo sobre ti, mantive por todas as horas daquele dia, a porta do
quarto trancada.
Então uma voz, vinda não sei dizer
de onde, me empurrou para dentro da tua boca outra vez e tantas outras vezes em
um só dia. De lá pra cá, a voz persiste
me dizendo baixinho:
:
havia pouco iniciara-se o namoro e ambos andavam tontos, era o amor. O amor com
o que vem junto: ciúme.
Tudo o que eu ouvia falar de ti guardei
em um cofre e joguei ao mar. Tua voz me diz, até os tempos de hoje, que é
preciso te provar para te saber. É preciso te beijar como se o mundo fosse
acabar ontem, porque viver é urgente. E todos os beijos devem ser iguais ao
primeiro, quando a tua boca inundou a minha e:
De
olhos fechados entreabriu os lábios e colocou-os ferozmente ao orifício de onde
jorrava água. O primeiro gole fresco desceu, escorrendo pelo peito até a
barriga.
Era a vida voltando, e com esta
encharcou todo o seu interior arenoso até se saciar.Depois de tudo, eu já fui tantas, mas poucas bocas beijei com o fervor daquele primeiro beijo.
É, você diz jamais ser ter sido Gustav Klimt, contudo, assim como ele, pinta bela e delicadamente. Ele, com tinta e pincéis. Você, com letras e palavras coloridas. Transmitindo encantamento por meio de um painel interessantemente elaborado.
ResponderExcluirDora Adriana Cunha
Nossa que comentário lindo! Você quase me convenceu Adriana, mas depois eu caí em mim e ainda prefiro ser nada. "Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. A parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo." Disse Pessoa e digo eu que também não sou nada. Abraço pra você.
ExcluirA modéstia faz parte da composição das grandes pessoas. Ainda bem!
ResponderExcluirDeus a ilumine sempre!
Abraço,
Adriana Cunha