segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

RECEITA PARA DESENVOLVER A CRIATIVIDADE POÉTICA

GALERIA DE FOTOS DOS INGREDIENTES DA RECEITA:











Primeiro, atente para tudo o que o seu olho pedir para ver, do maior ao minúsculo feito. Atente também, para tudo o que o ouvido pedir para ouvir, o nariz pedir para cheirar, a língua pedir para provar, as mãos pedirem para tocar.

INGREDIENTES:

- 1 dúzia de pessoas fingindo querer aprender a falar francês;
- 1 pessoa em plena paz e com muita vontade de dividi-la com as 12 pessoas referidas;
- 1 dúzia de pessoas com simplicidade de ambiente e de vontade;
- 1 Casarão sem forro;
- Algumas gotas de chuva não muito forte, não muito fina, sobre o telhado do Casarão sem forro;
- Alguns bonecos morando no Casarão;
- 1 Caranguejo Sem Cabeça;
- 1 Bem-Amada em fuga com o Cavalo-marinho;
- 1 guardadora do Casarão;
- 1 guardador do Casarão;
- 1 desejo de fazer lenda;
- 1 desejo de fazer renga;
- 12 pessoas e mais 1 com vontade de realizar o desejo poético.

MODO DE PREPARO:

Deixe por algumas horas os ingredientes todos, dentro do Casarão dos Bonecos. Misture bem as idéias dos ingredientes. Faça cair uma chuva na cidade, não muito forte, não muito fina. Despeje tudo na máquina do não real, deixe lá até adquirir consistência. Pingue algumas gotas de renga e lenda dentro da máquina do não real, deixe agir por cinco minutos ou algumas horas. Sirva ao ouvinte ou leitor e espere a digestão.

sábado, 22 de janeiro de 2011

RENGA-LENDA DO CARANGUEJO SEM CABEÇA



Era começo de noite
no Casarão dos Bonecos...
A porta rangia
e sozinha batia
e vozes bem longínquas de crianças
por lá também se ouvia.

De dentro do quarto mais escuro
a boca dos bonecos
fechava e abria
e um som estranho
lá de dentro também saia.

Pelo barulho de chuva
dava pra imaginar
a lua no céu não estava
nem as estrelas a brilhar...
Então as vozes diminuíram
apenas a porta a bater
ouvidos e olhos atentos
queriam compreender

Um ruído nada estranho,
algo seco como arranho
mas nem tão familiar.
vinha às pressas do quintal,
som pequeno de assombrar.
pelo frio que deu na espinha,
dúvida eu não tinha,
era unha de animal.

E o assoalho de madeira a ranger
com as pegadas curtas e rápidas
de um Caranguejo que, por amor,
perdeu a cabeça
e no meio da escuridão
aprendeu a fazer
o Casarão dos Bonecos tremer.

Diz-se por lá
que ele sofreu dos males do amor,
comeu da rosa, o espinho,
pois a sua bem-amada
fez a troca que julgou certa
um Caranguejo por um Cavalo-Marinho.

Desde então,
diz a lenda,
que o Caranguejo sonha ser Escorpião
e mata todos que lá entram
com um só arranhão.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

EM DIA DE TRISTEZA MAIOR...



Ela sabe ficar a mordiscar pequenas alegrias durante os seis dias úteis da semana. E no sétimo dia, quando este vem chegando, ela se farta toda de um banquete maldoso, igual aos que não sabem ver utilidade alguma naquele dia, ela se deita e se faz toda inércia. No sétimo dia, ela é pura indolência.
E nega ter conhecimento de um outro prato no sétimo dia.
Nada de bom na tv, nem cinema, nem teatro.
A cama chama por ela e ela se lambuza toda desse prato.
E é assim que no sétimo dia ela come tristezas muito grandes, e por serem grandes levam muito tempo para serem digeridas. E ela desce até o seu porão para se fartar mais e mais de desalento, consternação, mágoa, aflição.
Com seu cardápio variado de dor desmedida, é assim que ela atravessa o sétimo dia, enquanto ele apenas anuncia:
- Em dia de tristeza maior, não desça de elevaDOR.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

EU TE PAGUEI COM MINHA ÚNICA MOEDA DE OURO



Ela conheceu Cléo nos jardins da teoria.
Primeiro ela cheirou a grama para saber se era bem cuidada. Depois ela quis invadir os coretos da praça em que o jardim se instalara, para sentir se nas paredes tinha lodo. Se tivesse lodo, seria bom para o passeio das mãos. O lodo é macio e deslizante, e assim seria a teoria das histórias tantas que pelo seu ouvido entrariam.
Castelos, reis, cavalos e armaduras, maldições e soluções... tudo deslizando como o lodo das paredes dos coretos, indo direto do ouvido ao coração. Dizia a lei do jardim das teorias da Cléo.
Foi por isso que ela se enamorou. O coração parecia mais esperançoso. Os olhos pareciam faiscar de entendimento. E havia nela, até um desejo de habitar o jardim da Cléo.
Conta a lenda que ela foi morar nos arredores do jardim de onde foi encantada e por lá fica, esperando as histórias que do corpo da Cléo deslizam mansamente, direto ao coração dela.
E foi por isso, que ela derreteu sua única moeda de ouro e transformou em aliança.
E foi também assim, que ela, Giselle Ribeiro casou com os pensamentos e atitudes literárias de Cléo Busatto. Hoje, ela dá aulas de literatura em uma universidade no Norte do país, bem distante da cidade de Cléo, mas muito próxima do pensamento e das teorias iluminadoras de Cléo Busatto.