Desde tempos, não muito
remotos, só vou ao mar com colete salva-vidas. Os medos que tenho me roubam o
exercício do novo, mas nem por isso me tiram a sede. Gosto de água como quem
gosta de pão quente com margarina qualy, depois das três da tarde. E essa
também sou eu.
Se ainda vivesse no
tempo de água em pote, pensaria em ter um caso com o pote só para sair abraçada
com ele sem grandes estranhamentos, sem que a mim dissessem: Lá vai a louca do
pote. E ter o prazer de ouvir: Lá vão o Sr. Pote nos braços da sua bem-amada Sra.
Água. De tanto beber água, eu já teria a confusão do que sou. Eu já seria a fusão do sólido com o líquido, eu já seria água. Se ainda vivesse no tempo de água em pote.
Mas os tempos mudaram e chegaram os filtros e os galões de água. Nem por isso perdi o gosto de beber água. Dou várias voltas do meu quarto até a cozinha, encho o copo me fartando, na tentativa de sair do estado sólido para líquido.
Agora, tenho ensaiado entrar no galão e ficar vendo peixes de toda cor passarem por mim.
Gosto de água como quem gosta de pão quente com margarina qualy, depois das três da tarde. E essa também sou eu.