A leitura do mundo precede a leitura
da palavra.
Paulo
Freire
Saio de São Paulo com uma
boa leitura de pessoas. Foram alguns dias em metrôs, ônibus, ruas, praças,
teatro e isso tudo lendo gente. Gente parada esperando o metrô, gente andando
nas ruas, gente sentada ou em pé nos coletivos daquela cidade gigante.
Ler gente me fascina, sobretudo
quando estou longe de casa, vejo as pessoas e seus gestos tão díspares da minha
terra.
Na grande São Paulo meu olhar
encontra gente em pé nos coletivos e sentindo o prazer de ler. Elas parecem
isoladas ou protegidas no lugar em que estão. Talvez seja em outro país, talvez
seja em outra cidade, talvez seja simplesmente em um tempo muito futuro para a
nossa realidade, mas a verdade é que elas foram transportadas para aquele
espaço da leitura e o que era desconforto, se estabeleceu como uma boa morada.
Por isso, meu alvo agora não
é a mulher no ônibus sentada fazendo tricô, ou a outra sentada que me olha neste momento,
mas a moça lendo em pé no ônibus, pois ela percebe que chegou o seu ponto, dá
o sinal de parada solicitada, caminha até a porta do coletivo para esperar o
motorista parar, isso tudo sem desistir da sua proteção e se mantém lendo em
pé, na porta de descida daquele coletivo.
O tempo em São Paulo dá o
lucro certo para quem sabe empregá-lo.
Ah, como eu queria que esse
mundo se estendesse até o meu!