sexta-feira, 25 de julho de 2014

7 DIAS SEMPRE RENOVÁVEIS PARA O ESCRITOR

Não. Não compramos em loja alguma um único dia para o escritor. A escrita escolhe o dia, o escritor apenas denuncia essa escrita.



- É possível definir poesia ou para você definir poesia é crime?

- Encontrar uma ÚNICA definição para a poesia é crime. Uma das coisas que a poesia pode ser, uma casa sonora. Ela é uma grande casa com uma numerosa família habitando seus compartimentos. E cada vez que a família, moradora desta casa, se movimenta a poesia se alarga para caber toda nela. Eu aposto na poesia como uma grande casa sonora porque sei que todas as portas desta casa se permitem abrir pelos seus moradores e fazer deles seus moradores mais fiéis. E eles são fiéis porque foram encantados pela casa sonora. A encantação começa quando o leitor se permite ouvir todas as vozes, todos os sons que a poesia tem para ele. Outra coisa que a poesia pode ser, um guarda-roupa cheio de peças para serem usadas em todas as estações do ano, ou todas as estações do seu tempo emocional: em dias de tristeza ou alegria pura tem poesia certa para vestir. Então entre neste guarda-roupa e experimente o que melhor lhe couber em cada dia do ano.

- Como acontece a criação literária para você que é poeta, com quatro livros já publicados?

- A criação literária pode acontecer como um espirro que lança estrelas para fora do escritor. Depois do dito, podemos imaginar um espaço escuro que pouco, bem pouco se pode ver e, de repente acontece uma invasão de vaga-lumes. Pequenos pontos acendendo e apagando e que dão clareza e ao mesmo tempo escondem clareza do leitor para torná-lo receptor ativo, aquele que terá vontade de acender esses vaga-lumes para saber o que estaria por trás daquela escuridão. Quanto aos três livros que eu publiquei, eles tem histórias diferentes e parecidas, ao mesmo tempo. O processo de criação literária é uma coisa surpreendente, pode ser um momento duradouro para atingir a maturidade poética, o tempo certo do nascer para o mundo. Mas pode ser também um espirro lançando estrelas para o espaço do leitor.

- Objeto Perdido. Esse é o nome do seu primeiro livro, qual o caminho trilhado para se chegar ao título de um livro?

- Às vezes o que dura mais tempo para nascer é o título de um livro, de um objeto que virou arte. Foi assim com o Objeto Perdido. Quando o livro já tinha a formação quase total do seu corpo, a cabeça pediu para ser gerada. E foi em 1997 que recebi uma carta vinda de Paris. Minha amiga e psicóloga Léa Sales estava fazendo um curso em Paris e me mandou de presente uma carta recheada de possibilidades de pensar o título do livro. Na carta eu encontrava explicação freudiana para os nossos conflitos e estava ali o segredo para o título do livro. Por isso o trecho desta carta aparece na contracapa do livro.

- E 69 durou muito tempo para o título ou a cabeça do livro também nascer?

- Eu confesso que não me sinto muito confortável para tratar da pele dos meus livros. A mim sempre parece que o livro quer e deve falar por si. Há leitores que desejam comprar o 69 só pelo título, sem fazer uma leitura proposta desde a capa, melhor dizer, da coluna vertebral do livro. Antes mesmo de abrir o livro, ele já anuncia o que tem dentro dele. A viagem deve começar desde o momento da embarcação.

- Pequeno Livro de Poemas Para Vestir Bem, esse é o título do seu terceiro livro lançado na XV Feira Pan-Amazônica do Livro e parece querer lançar uma nova moda. É isso?

- Eu não digo que é a nova moda, mas uma moda antiga que quer retomar o seu lugar. Houve um tempo, nós o perdemos, em que ouvíamos histórias antes da noite tomar velocidade e se transformar dia. Era o tempo em que a eletricidade não violentava a nossa imaginação, o tempo que se ouvia histórias e se lia também muitas histórias como se elas fossem parte de nós. Era como se abríssemos o guarda-roupa e descobríssemos a roupa como pele nossa. Então, tomávamos emprestados os textos acreditando que naquele momento mágico, o texto nos pertencia e nós pertencíamos a ele. E havia cumplicidade!


- O que você diria para a geração que tem sido violentada pela descoberta da eletricidade?

- Às vezes, é preciso apagar a lua para ver melhor.





 
p.s. Entrevista feita com a dualidade Giselle Ribeiro para o planeta Venus.









 

3 comentários:

  1. Lindo. Meus olhos e ouvidos agradecem palavras tão bem moldadas por mãos de quem sabe lapidar a escrita. Feliz dia do Escritor!!!

    ResponderExcluir
  2. Eu não sei quem é você, você não assinou, mas agradeço imensamente a sua visão e escuta tão atenta. E procure ser feliz os 7 dias da semana, para isso lutamos todos os dias! Obrigada pelos olhos pousados na minha palavra, que agora pode ser sua. Abraço meu pra você.

    ResponderExcluir
  3. Eu cá estou em belas andanças poéticas na sua inimaginável companhia, vivendo e aprendendo em cada encontro... Gratidåo!!!

    ResponderExcluir