sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

FALANDO DE ENCANTAÇÃO

Minha família de prática poética e eu literaturando para ela:




“Eu te conheço até o osso por intermédio de uma encantação que vem de mim para ti”

Eu hoje começo essa conversa, caro leitor, com uma fala da mãe das palavras sábias, Clarice Lispector. E isso tudo só para falar de uma coisa tão na moda nos dias de hoje: adesivos de família colados na lataria dos automóveis. E eu que sou um tanto “crazy”, que tenho carro, mas não dirijo, que conheço a moda, mas não me prendo nela, não do jeito que todos fazem. Eu prefiro andar na direção inversa, enquanto todos colam sua família biológica nos seus carros do ano, eu, crazymente, decido colar na minha pele a minha família de prática poética.
Ela é composta de pessoas do bem, escolhidas pelo meu coração e pelo meu detector de pessoas dispostas a se abrirem para o entendimento do mundo, da vida e de tudo o que a literatura pode nos oferecer.
Minha família de prática poética é composta de pessoas escolhidas pelo que são:

Adriana Cruz, minha contadora de histórias, que deve ter guardada em seu coração mil e uma histórias para manter acordado o mundo inteiro, se o mundo inteiro quisesse ouvir;

Alana Lima, que tem ar de brabeza e delicadeza tudo ao mesmo tempo, para não nos deixar desgostar dela;

Belly Honório, que tem velocidade na voz para alcançar todos os seus sonhos. E que assim seja;

Maria do Carmo Casseb que tem os olhos sempre brilhantes quando falamos de poesia e,

Inezita Tenório, porque dentro dela tem trovoadas querendo ser chuva fina.

Você vai ver, caro leitor, que elas foram desenhadas para serem coladas não na lataria do meu automóvel, mas na minha pele, porque entre nós existe uma encantação que vem de mim para elas e delas para mim.

P.S. No adesivo a Adriana Cruz não aparece, porque não estava presente no momento da desenhação, mas se quiserem vê-la, é só olhar para a minha pele.

A ilustração que acompanha este texto foi feita por Maria do Carmo Casseb, no segundo dia do I Encontro de Contadores de Histórias da Amazônia.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

MINUTOS ANTES DO REALEJO


Apresentação do grupo Realejo - Livraria Saraiva - Belém-Pará

Sempre que vejo o barco da minha vida, me ponho a rimar... Rimar
rumo ao alto-mar, da minha vida. E ela me pede com voz mansa:

- Vamos viver só de poesia?

E eu que trago no peito uma brisa branda de muita paz, conquista dos tempos de maremotos, aceito de imediato o desafio e acendo as velas todas do barco da minha vida. Minha vida pega fogo rimando, rimando contra ou a favor da maresia e, olhando nos olhos largos da minha vida, com alegria devolvo o desafio:

- Vamos viver só de poesia?

E saímos brincando de esconde-esconde nas linhas tortas da minha vida.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

EM DIAS DE TEMPESTADE, COBERTOR DE PELE



Engenharia feita. Medidas exatas do tamanho do estrago da arrebentação. Náufragos. Todas as mentiras lançadas contra mim, serão náufragos. A paisagem era assim: minha praia de água doce invadida por ondas fortes de mentiras, falseamento da verdade, tramas. E minha jangada vinha vindo ao longe mansamente, como as esperanças tandas que tenho. Vi no meio de tanto mar, ondas de mentiras avançando vorazmente. Abri o mapa, prendi a bússola na mão esquerda e mostrei a paisagem ao meu amor.

Meu amor me disse:

- Não dê ouvido maior ao barulho dessas ondas e, lembre que durante a noite Poseidon dorme em nossa jangada e durante o dia come no nosso prato. Quando chegarmos em terra firme, desocupe o seu ar sério. Vamos ao Parque de Diversões.

Meu amor entende de nuvens que andam e sabe o que fazer com o resto de nossas vidas...

terça-feira, 1 de novembro de 2011

CLÉO BUSATTO VESTE MADAME HOMERO



Um livro de poemas quando cabe perfeitamente no leitor, se enche de prazer e se diz ter nascido para isso. Foi assim com o meu Pequeno Livro de Poemas Para Vestir Bem. Mandei o livro em um envelope acompanhado de uma carta manuscrita para Cléo Busatto e pedi à ela que abrisse aquele pequeno objeto como quem abre um guarda-roupa e se precisasse de agasalho para os dias de frio, aquele objeto lhe daria. Se precisasse de roupa leve, para os dias de verão, aquele pequeno objeto também lhe daria... E foi assim que aquele pequeno objeto chegou até a casa interior de Cléo Busatto e foi recebido com o calor fraterno dos que sabem ouvir e contar histórias.
Conheçam o depoimento de Cléo Busatto quando entrou no Pequeno Livro de Poemas Para Vestir Bem:

“Na beira do Guajará vive uma morena que escreve versos com tinta branca e tem um sorriso que parece lua cheia. Quando recebo carta dela é uma alegria, por que vem poesia. É quando ela aumenta o volume da palavra só para fazer ruído térmico no ouvido do leitor. E leio:

MADAME HOMERO

Dei à ela uma cadeira de balanço,
uma roda de crianças
e um tabuleiro de Grimm e Perrault...

E ela me deu sua moeda mais valiosa.

Ergueu os braços como se fosse voar,
fez gestos largos como se fosse me abraçar,
e do seu coração embrasado
fez soprar histórias para ninar e acordar.

E foi assim que ela entrou na minha casa
com sua numerosa família
e todos os e noites faz nascer em mim
a Mulher-Sol e o Homem-Lua.
(p.55)

Leio, não, saboreio como se faz com fruta suculenta, vinho fino, ambrosia e outras especiarias, cada rima de Pequeno livro de poemas para vestir bem.
Com poesia assim, tem que ter gosto bom. E a palavra-imagem de Giselle Ribeiro escorre para dentro da gente, fácil, macia, ternura só. Deixa ela falar e ativar o sagrado em nós. É pra isso que existe o poeta.”

Texto gentilmente cedido e extraído do blog: http://cleobusatto.blogspot.com/2011/10/pequeno-livro-de-poemas-para-vestir-bem.html

P.S. Cléo Busatto desfila com a roupa que melhor lhe cabe, Madame Homero é um poema para Cleo Busatto, anuncia o Pequeno Livro de Poemas Para Vestir Bem.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

MEU AMOR E EU FALAMOS DE NUVENS E OUTRAS COISAS QUE EU NÃO SEI



Meu amor e eu estávamos deitados olhando o teto do quarto... e de repente uma lembrança invadiu o meu pensar as coisas. Quase todas as manhãs tiro um pouco do tempo para deitar no banco ao ar livre e bem da ponta da praça, vejo nuvens que vão. E eu fico me perguntando:

−Para onde elas vão tão soberbas?

Meu amor me tira do meio da dúvida e anuncia:

−Elas vão dar a volta no mundo. Elas vão fazer chover em algum lugar.

Gostei do que ouvi. Meu amor é brilhante! Meu amor sabe todas as respostas desse mundo.
Até mesmo de nuvens que andam, meu amor entende!

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

ESPERANDO A IDADE DE BODAS DE PRATA



Então eu deveria contar a minha verdade?
Outro dia uma leitora me enviou uma mensagem perguntando se eu estava apaixonada. Meu impulso primeiro foi foucaultiano. Disse a ela para apagar o nome da autora da obra e assim a comunicação poética se estabeleceria. Na época ela lia o Pequeno Livro de Poemas Para Vestir Bem.

Pobre leitora viciada na vida dos autores!

E pensar que eu dei a ela o que ela menos queria.
Mas hoje, decidi ser mais generosa com a leitora. Acordei com vontade de conversar com ela e fazê-la entender que eu não posso dizer que estou apaixonada, porque o meu estado é de ser e não de estar.

Querida leitora vamos conversar escondidas de Michel Foucault?

Porque hoje decidi contar, só pra você, a minha verdade. Não sei exatamente qual o poema que te fez pensar na autora apaixonada, mas arrisco Declaração Individual do Primeiro Pecado, porque esse poema anuncia o meu estado e o estado de qualquer leitor comprometido, preso por vontade, que dorme e acorda ao lado do ser amado e sabe reconhecer o valor de estar presente na alegria e na tristeza.

Meu amor e eu já temos quase a idade de bodas de prata, por isso, cara leitora, insisto em te dizer que eu não estou apaixonada, eu sou apaixonada, porque gosto mesmo é de amor eterno.
E se Michel Foucault passasse por aqui agora, eu me esconderia dentro deste guarda-poemas e de lá sairia trajando a minha Declaração Individual do Primeiro Pecado como quem, com alegria, espera ao lado do ser amado a idade de bodas de prata chegar.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

O DESENLACE UMBILICAL



Então ele pegou a minha mão e disse:

-Diga mãe, houve festa no dia em que eu nascimento? Ou foi mais um dia de doer, o dia do meu nascimento?

Fiz um longo silêncio, daqueles que se faz sempre que um bom acontecimento pede espaço na nossa memória.

Depois, tudo parecia hoje. O dia vinte e oito, mais parecia o dia nove. Ele me fez reviver com precisão o agito da maternidade, as pediatras tomando ele nos braços e pondo no berçário para que as visitas pudessem vê-lo tão pequenino, e já tão vivo. E ele olhou pra mim e disse só no olhar:

- Mãe, aumenta o volume das minhas palavras. Quero fazer ruído térmico no ouvido do leitor.

E foi assim, bem no meio da XV Feira Pan-Amazônica do Livro que você nasceu, meu querido e Pequeno Livro de Poemas Para Vestir Bem.
E depois de ti, houve longos dias de resguardo que jurei nunca mais parir versos.

Mas eu não mando em mim!

domingo, 11 de setembro de 2011

O LIVRO E A RECEPÇÃO



O DICIONÁRIO DE LUCAS

Pedro
Tiago
e João
nomes próprios de marinheiros.

Marinheiros:
homens com linha e anzol
ou rede de pescar.
Conhecedores do mar,
do alto-mar,
do além-mar.

Peixe:
animal aquático e parco
na rede de pescar
de Pedro.

Mas Pedro aprendeu a ler
o dicionário celeste
e viu peixes em demasia
saltando do mar
para sua rede de pescar.

No dicionário celeste
Pedro aprendeu
que o verbo pescar
é verbo que se conjuga
em todos os tempos
e em todo lugar.

Agora Pedro é nome próprio.
Sem linha e anzol
ou rede de pescar.
Pedro agora é pescador de homens
na terra ou no mar.

do Pequeno Livro de Poemas Para Vestir Bem, p, 29 e 30.


VEJA O VÍDEO ATÉ O FIM E SÓ DEPOIS LEIA O PRIMEIRO SINAL DE UMA BOA RECEPÇÃO:



O livro nasceu no dia 09 de setembro de 2011, bem na XV Feira Pan-Amazônica do Livro e as reações primeiras dos leitores já foram recebidas e escutadas em alto e bom som. Veja como a Lorena Rodriguês recebeu o Pequeno Livro de Poemas Para Vestir Bem:


Vim registrar aqui as minhas impressões acerca do seu último livro.
Nossa! Que experiência agradavelmente poética! Tipo como o guarda-roupa de As Crônicas de Nárnia, entrar em seu guarda-roupa foi mágico! Por meio dele fui levada para uma terra mágica habitada por seres encantados construídos de palavras que me mostraram o quanto o trabalho com a escrita proporciona sensações das mais diversas.
Apesar de ser um livro pequeno, não perde nada por isso. Dos seus livros esse foi o que mais me cativou, mesmo.
Então, jogue a nota fiscal fora, pois não há necessidade de troca. As roupas me couberam muito bem!


AGORA PENSE EM COMO AS COISAS MUDAM E UMA SIMPLES SOMA SE TRANSFORAM EM ALGO NOVO:

1 + 1 = 3

Tudo agora é assim:

Toda essa matemática funciona assim:
Eu tenho três livros publicados. São eles: Objeto Perdido, 69 e Pequeno Livro de Poemas Para vestir Bem.
Cada livro custa R$ 15,00.
Mas se você comprar um Pequeno Livro de Poemas Para Vestir Bem e um 69, você ganha um Objeto Perdido.

Por isso, nossa lógica se transforma:
1 + 1 = 3.
Simples assim.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

É PARA LÁ QUE EU VOU


Imagem do filme BAGDAD CAFE

E PARA LÁ QUE EU VOU
(texto tecido para Rosa Brasil em dia de aniversário, depois de reler Onde estiveste de noite. p. 95 de Clarice Lispector)


Um dia, se me perguntarem:

─ Como você construiu todo esse Império?

Devo dizer que a pergunta, já foi dita tantas e tantas vezes que o ouvido dói e cansa... Mas a resposta, também foi dita tantas e tantas vezes e os desavisados não souberam ouvi-la.

Hoje, eu resolvi escrever no papel da sua tela, o que o ouvido não quis ouvir e talvez os olhos consigam ver:

─ Todo esse Império vem de uma herança, do tempo em que a terra era sem forma, vazia, escura e coberta de água. E Deus disse: haja luz.

E desde então todo esse Império acende muito mais que apaga dentro de mim. Porque dentro de mim há alegria quase infinita, luz que ilumina quando há escuridão. E é para lá que eu vou.

"PARA ALÉM da orelha existe um som, à extremidade do olhar um aspecto, às pontas dos dedos um objeto
─ é para lá que eu vou.
A ponta do lápis o traço.
Onde expira um pensamento está uma idéia, ao derradeiro hálito de alegria uma outra alegria, a ponta da espada, a magia ─ é para lá que eu vou.
Na ponta dos pés o salto.
Parece a história de alguém que foi e não voltou
─ é para lá que eu vou.
Ou não vou? Vou, sim. E volto para ver como estão as coisas. Se continuam mágicas. Realidade? eu vos espero. É para lá que eu vou.
Na ponta da palavra está a palavra. Quero usar a palavra ”tertúlia” e não sei aonde e quando. À beira da tertúlia está a família. À beira da família estou eu. À beira de eu estou mim. É para mim que vou."

Todo esse Império, não foi construído com tijolo, cimento ou areia. Todo esse Império vem da alegria de me saber humana, herança divina e do desejo de que dentro de você também haja luz.



quinta-feira, 18 de agosto de 2011

COM QUE ROUPA EU VOU?



Nos últimos dias criei, em mim, o hábito de cantar mais.
Andei pedindo para a Senhora Felicidade se nutrir de mim, me abraçar com força e sem qualquer desejo de me desprender.
Ela fez cara de impossível, mas ainda assim, parece ter deixado a torneira da alegria ligada em mim.
Não sei o que será do dia de amanhã, mas hoje a torneira ainda jorra alegria, por isso hoje minha voz tem a letra de Noel Rosa:

Pois esta vida não está sopa
E eu pergunto: com que roupa?
Com que roupa que eu vou
Pro samba que você me convidou?

E o grande barato é saber que essa canção tem voz de poesia que pede para ser vestida pelo leitor...
Vão dizer que eu enlouqueci mais uma vez?
Eu não ligo.
Prefiro entender que poesia foi feita para isso mesmo!
Poesia foi feita para grudar na pele. Para te seguir. Para ser tua roupa. É mais ou menos assim, um belo dia você abre um livro e se depara com um texto que tinha marcado encontro com você... Sem que você soubesse. É claro.
O texto se mantém ali, bem dentro do livro, como se ele estivesse em um guarda-roupa. Não, melhor dizer guarda-texto. E no dia do encontro marcado ele entrará em você, nas suas medidas e irá com você pro convite do samba.

Eu acredito nisso. Se você não acredita, espere até o dia do encontro marcado.

Por falar em encontro marcado, estarei na XV Feira Pan-Amazônica do Livro, no dia 09 de setembro de 2011, às 17 horas, no Espaço do Escritor Paraense para tomar um Café das Letras com outros leitores e falar dessas loucuras que nos fazem tão bem.

Ainda vou escolher a roupa que devo vestir nesse dia...

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

EQUILIBRADA NO FIO DA MINHA FELICIDADE



Não. De lá eu não caio, só se me empurrarem para o outro lado. Dessa felicidade eu não largo. Se quiserem me ver chorar, só se for um choro feito de felicidade.



E rir eu estou aprendendo. Pular na areia, também. Tomar banho no chuveiro público. Pode ser bom. Eu sou parte do público. Me vejo igual a todos...
E a onda de felicidade era tanta que me derrubava só pra me ver rir meu riso. E a família toda ria junto.



A praia era quase toda nossa e nos avisava: Hoje preparei um espetáculo e lhes ofereço fortes ondas de emoção.

Esses dias têm sido assim...

segunda-feira, 25 de julho de 2011

ESPAÇO ENTRELETRAS I

Este espaço é destinado ao projeto
ENTRELETRAS: APRENDENDO E ENSINANDO A LER E A ESCREVER O MUNDO A PARTIR DA ATITUDE ÉTICA E ESTÉTICA NO MUNDO.
Coordenadora: Profa. Rosa Brasil
Colaboradora: Profa. Giselle Ribeiro

Algumas experiências com bolsistas do projeto:

A REALEZA URBANA
Conto de fadas por: Ivone Leal Lopes

Era uma vez um pequeno reino encantado, chamado Batista Campos, localizado no centro do grande império Belemense. Sendo um reino encantado, logo só era habitado e visitado por pessoas e animais que fossem encantadores.
No grande império havia outros reinos encantados, como República, o Rodrigues Alves e o Goeld. O Batista Campos era o mais famoso e rico, já era um cosmo-reino e sua economia girava em torno da comercialização de água de coco e da fonte dos desejos, onde os visitantes jogavam muitas, muitas moedas, para realizarem o sonho da casa própria.

Mas muitas coisas horríveis estavam acontecendo por lá, na verdade era a maldição da inveja, por parte do rei de República, que havia mandado matar o casal real de Batista Campos. Pelo fato de este ser o reino mais poderoso e por ser visitado pelas nobrezas dos demais reinos diariamente , enquanto que no República só havia um comércio de bugigangas aos domingos pela manhã e a tarde era freqüente a presença da plebe que consumia mercadorias ilícitas. O fato é que após a morte da realeza de Batista Campos, um imbróglio tomava conta do reino: invasões de bárbaros e saqueadores era frequente, e os habitantes não mais consumiam água de coco, só queriam usar entorpecentes altamente refinados (chamado Bob´s), do qual já estavam dependentes.

Foi quando as subministras reais McRosa Dumbledore e Giselle Severina Snape, perceberam que toda essa desordem no reino havia sido causada pela falta de um casal real. E convocaram o povo para uma reunião com o intuito de promover a escolha urgente de um rei e uma rainha, que fossem capazes de trazer a paz e a riqueza de volta ao reino.

E a procura foi muita, pois todos queriam ter a chance de reinar, mas de todos que participaram da seleção, apenas o rei Armando e a rainha Terezeth ll, foram os mais votados, pois eram os únicos com dons e corações puros, para usar o trono e pôr ordem de volta ao reino.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

O MINISTÉRIO DA SAÚDE ADVERTE:



A Tuberculose ainda é a doença infecto-contagiosa que mais mata.
E bem poucos sabem disso.
A Rubéola é uma doença contagiosa, mas nem sempre mata ou deixa seqüelas.
O Sarampo doença potencialmente grave. Mal-estar geral, febre, coriza e tosse que se acentua com o passar dos dias.
A Catapora, doença infecciosa causada pelo vírus da varicela. Doença do inverno e da primavera.

ALERTA GERAL:

A Poesia é uma saúde contagiosa e potencialmente boa para o desenvolvimento da criatividade, sobretudo em crianças de dois a sete anos de idade, quando ainda não sofreram agressões do ambiente em que vivem, melhor dizendo, ainda não foram postas em formas para o processo de reprodução da normalidade da espécie.
Há crianças que nascem com a pré-disposição para a poesia. Essas crianças apresentam sintomas nítidos de:
- criação de novas palavras,
- cantarolar letra de música que não conheça o final, apenas o ritmo,
- falar com pessoas que, aparentemente, não existem,
- dar novas funções aos objetos...

Os pacientes da saúde da Poesia devem ser mantidos bem no meio da multidão para não deixarem de cumprir a propagação.

Há adultos que deixam a sua criança interior incubada por toda vida, mas há adultos que não permitem a reprodução de anticorpos e se deixam serem poetas por toda a vida.

E em nome deles o ministério da saúde adverte:
A Poesia é uma saúde contagiosa.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

MULHER RETRÔ


“...
E quando penso resistir a todos,
Eles chegam com suas mãos pesadas
E riscam meu mapa.
Ninguém deseja saber
Das noites que não têm festas.

No sonho,
na valsa
meu ritmo é sempre lento.
...” 1.

Retiro-me da glória de ser uma mulher moderna. Mulher contemporânea que não escreve cartas com caneta esferográfica. Para os que esqueceram, eu ainda gosto tanto da caneta em que um pequeno tubo se encaixa a pena e de lá pintava a tinta para falar direto aos endereços dos destinatários.
Carta, envelope, selo, destino... Há um apagar dos atos mais humanos.
Com a era tecnológica chega um diluir dos gestos nossos, uma pressa na execução das tarefas de todos os dias. Cada ano que passa há avanços, mais avanços e um pouco mais de avanço.
"No sonho, na valsa, meu ritmo é sempre lento”(...)
Eu sou do tempo da fita cassete, relembrando: uma caixinha com fita magnética, própria para gravações. Do tempo do Long-play, melhor dizendo LP ou ainda, disco viniL, quando riscado, pedia a repetição da escuta até que o braço da vitrola fosse tocado, empurrado pela mão humana para prosseguir a canção. Nesse tempo a máquina ainda precisava do homem!
Mas o tempo da substituição chega voraz com seus tanques de guerra passando por cima de tradições. E a velha cadeira de balanço não tem mais lugar nas nossas calçadas. E o carteiro só entrega contas a pagar. E a conversa da boca da noite não sai mais, apenas um bocejar e a recolhida, o fechar as portas e janelas todas agora gradeadas.
E o vocabulário também sofreu distorção, para tantos, hoje eu sou apenas uma mulher retrô.






1.Citação do livro Objeto Perdido, p.105. 2004.

domingo, 12 de junho de 2011

O GOSTO DO VERBO ESCOLHIDO



BRINCAR:
3.Agitar-se alegremente; foliar, saltar, pular, dançar.

Essa é uma das definições que o dicionário Aurélio nos dá, mas eu diria também que brincar pode ser cantar, por isso eu canto:

“Eu gosto de ser mulher
Que mostra mais o que sente
O lado quente do ser
E canta mais docemente.”

Gosto de ficar ouvindo minha voz interna. Aprendi comigo, por exemplo, que na infância brincamos de Esconde-Esconde e o bom é sempre encontrar o esconderijo do outro. Mas minha voz interna me disse também que na fase adulta é melhor encontrar o Nosso Esconderijo, se ver mais de perto, saber o que dói, como dói, o que dá alegria, como recebemos a alegria, o que fazer com tudo o que chega até nós... Foi assim que eu descobri que passado alguns longos anos e ainda que reconheça o ciclo desta vida que gira em torno da alegria e da tristeza, o melhor é sempre manter o equilíbrio.
Quando vier a fase da tristeza, que ela venha, pois que aprendemos o ofício da espera da alegria, que virá para seguir o seu ciclo.
E se na infância brincar de Esconde-Esconde tem um bom gosto de alegria, melhor mesmo é na fase adulta brincar de Encontre-se-Encontre-se.Esta é uma brincadeira que não exige fortuna maior que a descoberta de si. Por isso brinco de Encontrar-me-Encontrar-me qualquer hora do dia, ou da noite, em Belém ou em Paris, pois o segredo desta brincadeira é estarmos dentro de nós e nos sabermos tão íntimos, conhecedores de quem somos, o que queremos e qual é o nosso lugar no mundo.

sábado, 4 de junho de 2011

HÁ CLARIDADE DENTRO DE MIM.



A pele epidérmica novamente me trouxe um medo que pensava já extinto. Quem apagou a luz dentro de mim? Por um bom tempo desacreditei voltar às impressões de blecaute, obscuridade interna. Mas eu afundei minha jangada para ver se sabia mergulhar, se sabia reconhecer o Deus que mora em mim e se voltaria com meu coração preso ao dele. Disse uma voz bem dentro do que julgava ser eu.
E já no fundo daquele mar, uma mão abriu todas as janelas da minha casa interior. E havia claridade em abundância. E o medo se diluía gradativamente formando uma espuma branca conduzida a outras margens. E, enquanto minha força crescia, eu submergia.
Da superfície, eu respirei o ar da graça divina...

domingo, 29 de maio de 2011

A PORÇÃO MÁGICA


Uma experiência de escrita e encantamento entre uma aluna no projeto de extensão "Entreletras" (UFPA) e algumas iluminuras das lanternas teóricas de Cléo Busatto, Bruno Bettelheim e Nancy Mellon. Assim nasceu o conto de Patrícia Barros:


Em um reino muito distante, daqueles que só conseguimos chegar se pegarmos o ônibus Marituba – UFPa, morava uma linda princesa.
Um dia, a princesa se apaixonou por um belo rapaz, o mais bonito da cidade, que trabalhava em um cyber perto do seu castelo.
Quando o pai da princesa ficou sabendo que sua filhinha estava apaixonada, ficou furioso, pois, viver um amor iria atrapalhar os estudos na universidade, então proibiu a menina de ver o seu amado.
Pobre princesa! Não tinha paz nem para respirar, não conseguia se movimentar sem que o pai estivesse por perto. Porém, um acontecimento mudou para sempre a vida das personagens. Um acidente de trânsito! O belo rapaz se foi...
O pai vendo sua filha tão triste, tão triste, se arrependeu de todas as maldades que fizera. E quando percebeu que a princesa também morreria de tanta tristeza, foi correndo pedir que uma bruxa fizesse uma porção para trazer o rapaz de volta à vida.
A bruxa (que nas horas vagas era professora de literatura) explicou que não possuía tamanho poder, mas, poderia trazê-lo de volta por apenas uma noite com uma de suas porções mágicas.
E assim aconteceu. A princesa foi ao cemitério meia-noite, derramou a porção mágica na cova do seu amado. Imediatamente ele apareceu. Depois de um longo beijo, os dois dançaram a madrugada inteira, como se a morte não mais existisse.
Amanheceu. O feitiço chegou ao fim. A princesa saiu correndo para a universidade e chegou atrasada para aula da bruxa:

sábado, 7 de maio de 2011

A PRINCESA SEM DONS PARA TAMANHA FELICIDADE



Texto tecido depois das descobertas interiores e da leitura do livro A arte de contar histórias de Nancy Melon. 2006.
Uma experiência proposta por Nancy Mellon e realizada por Giselle Ribeiro.

Num castelo muito, muito distante morava uma menina-mulher. De dia parecia mulher. De noite parecia menina. Quando saía para trabalhar era mulher. Quando saía do trabalho era menina. E a vida assim seguia...
Não conhecia a vida sozinha. Dependia dos guardas do castelo para ir ver o mundo além das fortes muralhas do castelo que morava. Tinha medo de quase tudo. De viajar sozinha tinha muito medo. Do mar ela também tinha muito medo, porque não sabia nadar. Quase não comia peixe, porque tinha medo das espinhas.
Mas com esses três medos ela já tinha lutado alguns dias e acreditava tê-los vencido. Até que um dia a rainha do castelo vizinho pediu para que ela contasse as lutas que ela já havia vencido e as que não conseguiu vencer.
A menina-mulher passou alguns dias pensando... pensando... como contaria as aventuras poucas que vivera?
E começou a somar os ganhos:
- Já viajei um dia sozinha.
Depois lembrou:
Mas nunca mais repeti a proeza!
- Já andei de barco.
E depois também lembrou:
- Mas eu sempre viajei de colete salva-vidas!
Então pensou mais animada:
- Ah, mas eu, vez por outra, como peixe!
E a sua memória foi impiedosa:
- Mas a rainha, sua mãe, trata sempre de preparar o filé de peixe, para que não lhe sirvam as espinhas.
Até que a menina-mulher encontrou um ganho vestido com roupa de perda:
- Um dia... Disse ela. Eu dirigi um automóvel. E depois, no outro dia, também consegui conduzí-lo por entre tantos outros carros. E cada dia ele parecia me aceitar dentro dele, quase como parte dele. Era assim, eu alcançava os três pedais dele: Embreagem, freio, acelerador. Embreagem, freio, acelerador. Tudo já quase automático. E a minha mão já parecia hábil com as marchas e a ré. Parecia, é um verbo perfeito ou será imperfeito para a minha vida, sempre tão protegida naquele castelo? E foi diante da dúvida, que eu laguei armadura e espada e dormi novamente.E a coragem, mais uma vez, deu ré.
Acordar novamente é quase luta perdida.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

A CASA INTERIOR ESTÁ ARRUMADA


Fotografia feita na Pinacoteca de São Paulo, fevereiro de 2011.

Passado alguns anos, a tarefa de viver já não parece mais um estranho ato!
Viver, então, pode ter o peso e a medida certa para os nossos ombros, para o nosso suportar, para a nossa capacidade de sustentação de cada decisão que tomamos ou deixamos de tomar.
Aos que se permitem viver os acontecimentos com a possibilidade da reconstrução da casa interior, o resultado virá em pontos ganhos para obter a paz maior. Esse é o bom e ainda incógnito objeto de desejo que o homem contemporâneo insiste em se furtar.
Eu, por mim, arrumo a casa sempre que posso. Recolho o lixo acumulado. Lavo o piso para poder passar novamente na companhia dos se permitem andar comigo. Ponho as cortinas para pegar sol. Lavo os lençóis para os dias de frio intenso. E nos dias de muito calor, abro todas as janelas que há em mim e a brisa mansa dos amores meus faz a festa no meu coração.

domingo, 27 de março de 2011

REGISTRO NO ARQUIVO DA HUMANIDADE




“Partir rumo ao alto-mar, na vida real ou nas histórias é um ato que causa uma sensação de nascimento salgado”(1).

RELATÓRIO DA NOITE DE ONTEM

Sempre que uma onda muito forte de emoção me invade, minha voz tem o estranho hábito da ausência e evapora, mas dentro de mim, um diálogo secreto e verdadeiro se inicia:

NOITE DO DIA VINTE E SEIS:

Mais uma vez volto ao mar. E minha jangada avança vorazmente contra o mar, o mar dos afortunados de emoção. Sigo rumo à ilha prometida: a casa da Mestre Patrícia Almeida. Lá, os marinheiros estão todos reunidos para lançar suas garrafas com a repetida mensagem:

Senhor Deus, que nos enviou sua mensageira, conduz em ondas mansas a viagem da nossa mestre Patrícia, por mais doze meses reaprendendo a união com o teu Sagrado Nome.
Daí-nos, o tempo da espera em calmaria, sabedores que no findar dos doze meses, a colheita de bons frutos do seu novo saber, por nós também será feita.

O que tem um(a) mestre a ensinar aos seus Yogues?
Pouco sabemos dizer, mas a verdade é que cada estadia ao lado de um(a) mestre, é dia de iluminação em nossos porões e nossas frestas obscuras geram cores muito mais vibrantes. E do pouco que ainda sabemos, o(a) mestre grava em nossa pele o exercício do perdão, do desapego, o exercício do amor. E assim, inspiramos e expiramos as suas lições.

Eis uma parte do meu diálogo interno do dia vinte e seis, na ilha prometida.





P.S. Texto resultado do desejo de boa viagem à Profa. Patrícia Almeida que segue para São Paulo em busca de mais aperfeiçoamento profissional.

1. Nancy Mellon. A Arte de Contar Histórias. 2006. p.96.

quinta-feira, 24 de março de 2011

ENDEREÇO DO POETA:


ENDEREÇO DO POETA: Rua das Palavras, em uma cidade que parece duas. Texto tecido para a homenagem ao Poeta Paulo Nunes no I Simpósio de Literatura Paraense.
Por Giselle Ribeiro ao poeta Paulo Nunes


ESCREVER
Ao Max Martins, homo ludens

Que menino
d e s a j e i t o u
o telhado do meu sonho?


Escrever é um poema dedicado ao Max Martins, nosso também poeta. Mas hoje eu resolvi apagar a dedicatória e libertar o poema para que ele retorne ao seu autor Paulo Nunes. Para meu ato, talvez criminoso, por tirar Max Martins do cenário, eu tenho explicações que fogem do primeiro olhar o poema. Que fogem da primeira indignação do autor Paulo Nunes, ou de qualquer outro leitor desatento.
Eu explico: Escrever é um poema grandiosamente composto por três versos com a iluminura do ponto de interrogação no seu final, que também pode ser recebido como começo, e não mais final, de outra viagem. Esse indefeso ponto de interrogação, marca a abertura da dedicatória no poema. E faz, maravilhosamente, com que o poema tenha fôlego suficiente para tantas possibilidades de leitura. Assim, eu me permito apagar o nome de Max Martins para dar vez a outro poeta, que neste momento é quem desajeita o telhado do meu sonho, e o poeta que no momento presente cumpre essa tarefa, é o próprio autor, é Paulo Nunes.
Explico mais ainda o meu crime pre(meditado) contra a dedicatória do poema Escrever, esse poema é um campo minado de abertura para uma leitura polissêmica, desde o seu título Escrever, que se lança a todo poeta. Passemos agora pela sua libertadora dedicatória, quando lança Max Martins na lista dos que escrevem com a força do homo ludens, esse homem que brinca e que joga e que por isso, também poderá dar vez a outro e outro autor.
Agora sigo em direção do título desta comunicação: Endereço do poeta: rua das palavras, em uma cidade que parece duas, é lá que mora Paulo Nunes, essa é a minha certeza, porque para saber se um homem é poeta eu consulto o seu endereço. Porque poeta não mora em rua de palavra com significado unívoco. Poeta quando nasce exige uma rua plural, uma cidade que no mínimo pareça ser duas. Porque ele sabe que veio ao mundo para acender e apagar as certezas do seu leitor.
O título desta comunicação devo dizer, surgiu da leitura e releitura do livro Em Citrial: uma história que parece duas, publicado em 1986 pela SEMEC. E quando eu digo que o endereço do poeta é Rua das palavras, em uma cidade que parece duas, eu não estou sozinha com o meu acreditar, agora relembro o que disse a também escritora paraense Maria Lúcia Medeiros na contracapa do livro citado:

“ Quem quiser perseguir linhas normativas e terminais no trabalho de Branco e Paulo Jorge não vai conseguir. As possibilidades de leitura vão muito mais além. Há leitura de ilustração, de texto e ilustração, só de texto, enfim, muitas e variadas maneiras de ler essa eterna história de amor “Em Citrial.”

P.S. Escrever, poema do livro O mosquito que engoliu o boi. Belém: Paka-Tatu,2002.

segunda-feira, 14 de março de 2011

GALERIA DA MINHA ALEGRIA

Profa. Patrícia Almeida
Poeta Manoel de Barros e Giselle Ribeiro
Profa. Patrícia Almeida e seus discípulos

Sempre vou ao mar, por isso, aprendi a nadar. O mar que eu sempre vou tem outro nome, muito mais forte e necessário. Aprendi com minha mestre em Yoga Patrícia Almeida que Deus é amor e com Jung aprendi que eu posso ser Deus. Deus é amor, eu sou amor. Esse é o meu mantra. E desde então, minha vida tem sido essa melodia de uma nota só. Minha vida tem sido esse refrão. Um mantra feito de água mole em pedra dura. E foi assim que eu me fiz mais doçura.E acho, verdadeiramente, que conheci e reconheço o rosto da felicidade amando e sendo amada sem controle, sem medidor, sem prestação de contas. Mas o novo mar veio com o rosto mais grandioso, arrisco até dizê-lo mais nobre, pois que amo sem ver cor, sexo, credo, nacionalidade... Aprendi a amar sem interesse da carne ou da matéria. Aprendi a amar a pessoa por ser Pessoa. E percebi, cantando o meu mantra, que o rio de tristeza que sempre corria em mim, se fez mar, mar de alegria. Por isso, hoje sou mais leve, sou água, sou ar entrando e saindo do pulmão da minha existência. Aprendi também com o poeta Manoel de Barros que a simplicidade tem nome de pessoa em poesia, e de poesia em pessoa, porque sabe ser só pessoa ou poesia, sem precisar de qualquer outro artefato para ser o que, de fato, é. Por isso hoje, eu também sou Pessoa que com outras Pessoas conjuga o verbo amar, com seu tempo e modo. Namasté minha amada mestre Patrícia Almeida. Saudações poéticas meu amado poeta Manoel de Barros.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

ENDEREÇO FIXO


Já faz muito tempo, devo lhes contar, que eu moro em uma Casca Protetora.
Mas o que faz uma mulher de quarenta e três anos, morar em um espaço de limites estabelecidos?
Talvez a maior das hipóteses seja: nada.
Quase absolutamente nada, é tudo o que eu faço neste pequeno espaço que até os dias de hoje eu me mantenho. E desde a infância até a mais extrema maturidade a fotografia sempre revelada é essa:

Para jogar queimada: Casca Protetora;
Para chegar e sair da escola: Casca Protetora;
Para atravessar a rua: Casca Protetora;
Para viajar sozinha: Casca Protetora;
Para sair de noite: Casca Protetora
Para dirigir automóvel: Casca Protetora;
Para viajar de barco: Casca Protetora;
Para dizer as suas dores tantas: Casca Protetora.

E quando uma parte de mim avança quebrando a Casca Protetora, uma camada mais resistente se refaz.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

RECEITA PARA DESENVOLVER A CRIATIVIDADE POÉTICA

GALERIA DE FOTOS DOS INGREDIENTES DA RECEITA:











Primeiro, atente para tudo o que o seu olho pedir para ver, do maior ao minúsculo feito. Atente também, para tudo o que o ouvido pedir para ouvir, o nariz pedir para cheirar, a língua pedir para provar, as mãos pedirem para tocar.

INGREDIENTES:

- 1 dúzia de pessoas fingindo querer aprender a falar francês;
- 1 pessoa em plena paz e com muita vontade de dividi-la com as 12 pessoas referidas;
- 1 dúzia de pessoas com simplicidade de ambiente e de vontade;
- 1 Casarão sem forro;
- Algumas gotas de chuva não muito forte, não muito fina, sobre o telhado do Casarão sem forro;
- Alguns bonecos morando no Casarão;
- 1 Caranguejo Sem Cabeça;
- 1 Bem-Amada em fuga com o Cavalo-marinho;
- 1 guardadora do Casarão;
- 1 guardador do Casarão;
- 1 desejo de fazer lenda;
- 1 desejo de fazer renga;
- 12 pessoas e mais 1 com vontade de realizar o desejo poético.

MODO DE PREPARO:

Deixe por algumas horas os ingredientes todos, dentro do Casarão dos Bonecos. Misture bem as idéias dos ingredientes. Faça cair uma chuva na cidade, não muito forte, não muito fina. Despeje tudo na máquina do não real, deixe lá até adquirir consistência. Pingue algumas gotas de renga e lenda dentro da máquina do não real, deixe agir por cinco minutos ou algumas horas. Sirva ao ouvinte ou leitor e espere a digestão.

sábado, 22 de janeiro de 2011

RENGA-LENDA DO CARANGUEJO SEM CABEÇA



Era começo de noite
no Casarão dos Bonecos...
A porta rangia
e sozinha batia
e vozes bem longínquas de crianças
por lá também se ouvia.

De dentro do quarto mais escuro
a boca dos bonecos
fechava e abria
e um som estranho
lá de dentro também saia.

Pelo barulho de chuva
dava pra imaginar
a lua no céu não estava
nem as estrelas a brilhar...
Então as vozes diminuíram
apenas a porta a bater
ouvidos e olhos atentos
queriam compreender

Um ruído nada estranho,
algo seco como arranho
mas nem tão familiar.
vinha às pressas do quintal,
som pequeno de assombrar.
pelo frio que deu na espinha,
dúvida eu não tinha,
era unha de animal.

E o assoalho de madeira a ranger
com as pegadas curtas e rápidas
de um Caranguejo que, por amor,
perdeu a cabeça
e no meio da escuridão
aprendeu a fazer
o Casarão dos Bonecos tremer.

Diz-se por lá
que ele sofreu dos males do amor,
comeu da rosa, o espinho,
pois a sua bem-amada
fez a troca que julgou certa
um Caranguejo por um Cavalo-Marinho.

Desde então,
diz a lenda,
que o Caranguejo sonha ser Escorpião
e mata todos que lá entram
com um só arranhão.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

EM DIA DE TRISTEZA MAIOR...



Ela sabe ficar a mordiscar pequenas alegrias durante os seis dias úteis da semana. E no sétimo dia, quando este vem chegando, ela se farta toda de um banquete maldoso, igual aos que não sabem ver utilidade alguma naquele dia, ela se deita e se faz toda inércia. No sétimo dia, ela é pura indolência.
E nega ter conhecimento de um outro prato no sétimo dia.
Nada de bom na tv, nem cinema, nem teatro.
A cama chama por ela e ela se lambuza toda desse prato.
E é assim que no sétimo dia ela come tristezas muito grandes, e por serem grandes levam muito tempo para serem digeridas. E ela desce até o seu porão para se fartar mais e mais de desalento, consternação, mágoa, aflição.
Com seu cardápio variado de dor desmedida, é assim que ela atravessa o sétimo dia, enquanto ele apenas anuncia:
- Em dia de tristeza maior, não desça de elevaDOR.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

EU TE PAGUEI COM MINHA ÚNICA MOEDA DE OURO



Ela conheceu Cléo nos jardins da teoria.
Primeiro ela cheirou a grama para saber se era bem cuidada. Depois ela quis invadir os coretos da praça em que o jardim se instalara, para sentir se nas paredes tinha lodo. Se tivesse lodo, seria bom para o passeio das mãos. O lodo é macio e deslizante, e assim seria a teoria das histórias tantas que pelo seu ouvido entrariam.
Castelos, reis, cavalos e armaduras, maldições e soluções... tudo deslizando como o lodo das paredes dos coretos, indo direto do ouvido ao coração. Dizia a lei do jardim das teorias da Cléo.
Foi por isso que ela se enamorou. O coração parecia mais esperançoso. Os olhos pareciam faiscar de entendimento. E havia nela, até um desejo de habitar o jardim da Cléo.
Conta a lenda que ela foi morar nos arredores do jardim de onde foi encantada e por lá fica, esperando as histórias que do corpo da Cléo deslizam mansamente, direto ao coração dela.
E foi por isso, que ela derreteu sua única moeda de ouro e transformou em aliança.
E foi também assim, que ela, Giselle Ribeiro casou com os pensamentos e atitudes literárias de Cléo Busatto. Hoje, ela dá aulas de literatura em uma universidade no Norte do país, bem distante da cidade de Cléo, mas muito próxima do pensamento e das teorias iluminadoras de Cléo Busatto.