quinta-feira, 7 de agosto de 2014

O DIA EM QUE EU ENGOLI UMA CHAVE

          Se eu fosse um alfinete, não ajudaria muito, ou quase nada, não ajudaria em nada. Talvez perfurasse a barriga e as palavras sairiam dela escorrendo sem multiplicar os seus significados. Talvez pouca coisa acontecesse nesse globo cheio de água em que eu me vejo agora.
          Disse a chave, um pouco pensativa das suas tarefas ali, no ambiente novo a percorrer.
         Agora, no caminho do laboratório: ultrassonografia, identificar objeto, reconhecê-lo e retirá-lo da barriga. Aproximação da gestação.
         “O filho que não fiz / fez-se por si mesmo” pensa Giselle Ribeiro e se diz esses versos do Drummond. E ela grita, quase silenciosamente para a mãe:
          − Mãe, engoli uma chave e ela abriu a porta para passarem 69 poemas eróticos. Será que já está próximo o dia da minha morte, minha mãe?
         − Possivelmente, minha filha. Nos próximos dias, você terá umas respirações ofegantes, uns arrepios, talvez suores e uns gemidos acompanharão essa hora.  A hora exata da sua “petite mort”. E assim, todos os que se aproximarem destas 69 páginas também viverão o modo francês de gozar a vida.
          E o amor abrirá novas portas.
 

2 comentários:

  1. Se a chave abriu a porta, então que venham esses 69 poemas. Serão muito bem vindos! E que nos façam ter 69 "petites mortes"!

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  2. Parabéns prima!!! Então esta chegando o dia,mais um filho prestes a nascer.Beijos

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