quarta-feira, 18 de abril de 2012

O POETA ANDANTE. UM DOADOR DE CORAÇÃO.


É ele. O moço. O doador de coração.

Essa é a história mais bem vista nos ônibus de Belém.
Na minha cidade existe um moço que se aproxima dos outros passageiros com a mesma calmaria das chuvas da tarde e deposita sobre nossas mãos, o seu coração.
O coração desse moço sempre conversa com cada passageiro. E tudo é mais ou menos assim, ele chega com uma pequena dose da sua fala poética e, BUM atravessa em um voo cortante a nossa atenção.

Depois ele desce do ônibus.
E nós seguimos com o coração dele guardado em nossas mãos. Sem pagar nada.

Acho que ele é uma espécie rara. Um tipo poeta andante que publica sua voz calma, serena e pulverizadora, combatendo os nossos vícios daninhos dentro dos ônibus em uma cidade bem distante das outras, no País chamado Brasil.
O coração dele mais parece um fertilizante lançado sobre as áreas de interesse.

Assim é o coração do Antônio Juraci Siqueira, o moço do ônibus, dessa história que hoje lhes conto.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

VER O PESO DE DOIS POETAS NA BALANÇA


Paulo Vieira e Daniel Leite reconhecendo o Peso Vero

Primeiro ouvi um barulho dentro da minha cabeça. Ouvi o barulho de rachadura do pensar a minha cidade. Comecei lendo Daniel Leite, poeta paraense. E depois de tantas páginas percorridas, ouvi mais rachaduras. Continuei lendo e avancei para as páginas do livro dividido com Paulo Vieira. E a rachadura concluiu o seu percurso: virou pó de pensamento. Acabo de ler dois poetas de Peso Vero. Um de pé firme na sua terra, Daniel Leite, poeta paraense de expressão regional. O outro de pé solto, desvairado, pé solto no ar, sabedor da sua cidade, mas cheio de liberdade. Paulo Vieira avança nas páginas do Peso Vero arrebentando a sua terra para plantar novos símbolos. Paulo Vieira, poeta paraense de expressão universal, traz homens de outras Nações para viver no Peso Vero, andar sob a sua escrita, pisar no chão do seu olhar poético. Vieira cura a cegueira de Homero e faz dele outro homem. Faz Homero beber Café com leite na casa de Prévert, relembrando “Il a mis le café dans la tasse” para então refazer “Ila preparava o café e o leite”. Enquanto isso, nas páginas primeiras lidas, Daniel Leite chama a Menina do café para lembrá-la do Peso Vero que a vida inspira, e enche a garrafa térmica daquela menina com o seu novo devir “Das paredes do mercado guardas essa noite infinda”.

terça-feira, 3 de abril de 2012

A FELICIDADE É SIMPLES ASSIM


O príncipe Garibalde

A princesa Gariléia


Num reino bem longe dali, vivia o belo e bom Gari.
Garibalde era o seu nome de pia e tudo o que nele se via
era bravura, coragem e boa vontade
para manter tudo bem limpo ali.
E no seu belo Reino, por outros chamado Praça Batista Campos
pegava todos os dejetos que por lá deixavam,
transformava em pó e carregava com sua pá
para bem longe daquele lugar.
Garibalde era bem feliz ali, pois que reinava
na companhia da sua Amada Gariléia.

Gariléia e Garibalde, um par de gente feliz até que...

Nem tudo nesta vida é perfeito, e isso todos nós já sabemos.
Os moradores que viviam em volta do Reino de Garibalde e Gariléia
eram quase todos, invejosos de tamanha felicidade.
E assim, se juntavam os de perto com os de longe
para despejar mais e mais dejetos dentro do Reino de Garibalde e Gariléia.
E todos os dias o bom príncipe e sua princesa
tinham que enfrentar os terríveis monstros do esquadrão das bactérias.
Eles se alojavam em todo o Reino de Garibalde e Gariléia,
no Lago de um Olho Só,
na grama ainda verde,
nos bancos feitos para sentar gente boa e gente ruim.
Mas Garibaldi e Gariléia encontraram um aliado para a luta brava continuar.
E cada vez que uma ameaça aparecia
era o um canto que se ouvia “Bem-Te-Vi sujando tudo por aqui!”
Era esse o canto de guerra do aliado de Garibalde e Gariléia
anunciando a presença de mais um inimigo para combater.

E quando chegava a noite,
o Reino todo ouvia Gariléia incansável
cantarolava para o repouso do seu Amado
a bela canção das lutas bravas dos seus dias:

Eu consolo ele / ele me consola / boto ele no colo pra ele me ninar / De repente acordo / Olho pro lado / E o danado já foi trabalhar... / Olha aí! / Olha aí! / Olha aí! / Aí o meu Gari, olha aí / Olha aí! / É o meu Gari.

P.S. Este conto foi tecido após uma vivência feita no Projeto Entreletras em 2011.
Local da vivência: Praça Batista Campos, em Belém do Pará.