Louvado seja Deus
que fez descer à terra um homem e duas mulheres. O homem com o coração na mão
enchendo de vozes o nosso olhar. As duas mulheres dando luz a cada instante que
as suas vozes se soltam e enlaçadas pelo afeto nos prendem nas histórias e nos
poemas escolhidos, com cuidado, para habitarem em nós.
Como desarmar um soldado num campo de guerra?
Com a alegria de ainda estarmos vivos e podermos sentir a mão do outro
suplicante de amor a cantarolar com suavidade e repetidamente:
“Dá tua mão... dá tua mão... dá tua mão...” e a mão quando alcançada recebe o
afago que entra como o sangue, como nova vida, uma vida feita de sonhos, pois
eles: o homem e as duas mulheres são Apanhadores de Histórias: Contadores de Sonhos.
Um homem e duas mulheres, volumes inesgotáveis de força e vontade de resgatar a
oralidade e talvez rescrever, em palavras ditas, um livro que não cessa de
mostrar as imagens refletidas nos nossos sapatos envernizados, de ponta fina,
belos e desconfortáveis. E assim, eles arrancam as nossas dores e alegrias, na
mesma medida, as mais escondidas, trazendo-as à superfície e nos tornando mais
humanos, outra vez.
Quem são eles? E quando isso acontece? Eles são Os Cirandeiros da Palavra. E
isso acontece sempre que eles entram em nossas vidas e nesse dia, há os que
choram e os que riem de um modo novo.
Tal qual o voo do louva-a-deus que remete ao voo de um caça de combate e tem a
capacidade de desviar de ataques de morcegos em pleno voo executando mergulhos.
Os mergulhos, por aqui, vêm acontecendo sempre que Os Cirandeiros da Palavra
atingem o nosso céu para mudar as nuvens cinzas do nosso tempo ruim.
Por isso, louvado seja Deus que fez descer à terra esse homem Antônio Juraci
Siqueira e essas duas mulheres Andréa Cozzi e Sônia Santos, Os Cirandeiros da
Palavra.
Louvado seja Deus, pois cada vez que Os Cirandeiros da Palavra se entregam
a nós, é como se Drummond saltasse das suas bocas e nos dissesse
em um único sopro os versos:
"Eu preparo uma canção
que faça
acordar os homens
e adormecer
as crianças”.
E nesse dia, há os que choram e os que riem de um modo novo.