quarta-feira, 29 de junho de 2011

O MINISTÉRIO DA SAÚDE ADVERTE:



A Tuberculose ainda é a doença infecto-contagiosa que mais mata.
E bem poucos sabem disso.
A Rubéola é uma doença contagiosa, mas nem sempre mata ou deixa seqüelas.
O Sarampo doença potencialmente grave. Mal-estar geral, febre, coriza e tosse que se acentua com o passar dos dias.
A Catapora, doença infecciosa causada pelo vírus da varicela. Doença do inverno e da primavera.

ALERTA GERAL:

A Poesia é uma saúde contagiosa e potencialmente boa para o desenvolvimento da criatividade, sobretudo em crianças de dois a sete anos de idade, quando ainda não sofreram agressões do ambiente em que vivem, melhor dizendo, ainda não foram postas em formas para o processo de reprodução da normalidade da espécie.
Há crianças que nascem com a pré-disposição para a poesia. Essas crianças apresentam sintomas nítidos de:
- criação de novas palavras,
- cantarolar letra de música que não conheça o final, apenas o ritmo,
- falar com pessoas que, aparentemente, não existem,
- dar novas funções aos objetos...

Os pacientes da saúde da Poesia devem ser mantidos bem no meio da multidão para não deixarem de cumprir a propagação.

Há adultos que deixam a sua criança interior incubada por toda vida, mas há adultos que não permitem a reprodução de anticorpos e se deixam serem poetas por toda a vida.

E em nome deles o ministério da saúde adverte:
A Poesia é uma saúde contagiosa.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

MULHER RETRÔ


“...
E quando penso resistir a todos,
Eles chegam com suas mãos pesadas
E riscam meu mapa.
Ninguém deseja saber
Das noites que não têm festas.

No sonho,
na valsa
meu ritmo é sempre lento.
...” 1.

Retiro-me da glória de ser uma mulher moderna. Mulher contemporânea que não escreve cartas com caneta esferográfica. Para os que esqueceram, eu ainda gosto tanto da caneta em que um pequeno tubo se encaixa a pena e de lá pintava a tinta para falar direto aos endereços dos destinatários.
Carta, envelope, selo, destino... Há um apagar dos atos mais humanos.
Com a era tecnológica chega um diluir dos gestos nossos, uma pressa na execução das tarefas de todos os dias. Cada ano que passa há avanços, mais avanços e um pouco mais de avanço.
"No sonho, na valsa, meu ritmo é sempre lento”(...)
Eu sou do tempo da fita cassete, relembrando: uma caixinha com fita magnética, própria para gravações. Do tempo do Long-play, melhor dizendo LP ou ainda, disco viniL, quando riscado, pedia a repetição da escuta até que o braço da vitrola fosse tocado, empurrado pela mão humana para prosseguir a canção. Nesse tempo a máquina ainda precisava do homem!
Mas o tempo da substituição chega voraz com seus tanques de guerra passando por cima de tradições. E a velha cadeira de balanço não tem mais lugar nas nossas calçadas. E o carteiro só entrega contas a pagar. E a conversa da boca da noite não sai mais, apenas um bocejar e a recolhida, o fechar as portas e janelas todas agora gradeadas.
E o vocabulário também sofreu distorção, para tantos, hoje eu sou apenas uma mulher retrô.






1.Citação do livro Objeto Perdido, p.105. 2004.

domingo, 12 de junho de 2011

O GOSTO DO VERBO ESCOLHIDO



BRINCAR:
3.Agitar-se alegremente; foliar, saltar, pular, dançar.

Essa é uma das definições que o dicionário Aurélio nos dá, mas eu diria também que brincar pode ser cantar, por isso eu canto:

“Eu gosto de ser mulher
Que mostra mais o que sente
O lado quente do ser
E canta mais docemente.”

Gosto de ficar ouvindo minha voz interna. Aprendi comigo, por exemplo, que na infância brincamos de Esconde-Esconde e o bom é sempre encontrar o esconderijo do outro. Mas minha voz interna me disse também que na fase adulta é melhor encontrar o Nosso Esconderijo, se ver mais de perto, saber o que dói, como dói, o que dá alegria, como recebemos a alegria, o que fazer com tudo o que chega até nós... Foi assim que eu descobri que passado alguns longos anos e ainda que reconheça o ciclo desta vida que gira em torno da alegria e da tristeza, o melhor é sempre manter o equilíbrio.
Quando vier a fase da tristeza, que ela venha, pois que aprendemos o ofício da espera da alegria, que virá para seguir o seu ciclo.
E se na infância brincar de Esconde-Esconde tem um bom gosto de alegria, melhor mesmo é na fase adulta brincar de Encontre-se-Encontre-se.Esta é uma brincadeira que não exige fortuna maior que a descoberta de si. Por isso brinco de Encontrar-me-Encontrar-me qualquer hora do dia, ou da noite, em Belém ou em Paris, pois o segredo desta brincadeira é estarmos dentro de nós e nos sabermos tão íntimos, conhecedores de quem somos, o que queremos e qual é o nosso lugar no mundo.

sábado, 4 de junho de 2011

HÁ CLARIDADE DENTRO DE MIM.



A pele epidérmica novamente me trouxe um medo que pensava já extinto. Quem apagou a luz dentro de mim? Por um bom tempo desacreditei voltar às impressões de blecaute, obscuridade interna. Mas eu afundei minha jangada para ver se sabia mergulhar, se sabia reconhecer o Deus que mora em mim e se voltaria com meu coração preso ao dele. Disse uma voz bem dentro do que julgava ser eu.
E já no fundo daquele mar, uma mão abriu todas as janelas da minha casa interior. E havia claridade em abundância. E o medo se diluía gradativamente formando uma espuma branca conduzida a outras margens. E, enquanto minha força crescia, eu submergia.
Da superfície, eu respirei o ar da graça divina...