quinta-feira, 16 de junho de 2011
MULHER RETRÔ
“...
E quando penso resistir a todos,
Eles chegam com suas mãos pesadas
E riscam meu mapa.
Ninguém deseja saber
Das noites que não têm festas.
No sonho,
na valsa
meu ritmo é sempre lento.
...” 1.
Retiro-me da glória de ser uma mulher moderna. Mulher contemporânea que não escreve cartas com caneta esferográfica. Para os que esqueceram, eu ainda gosto tanto da caneta em que um pequeno tubo se encaixa a pena e de lá pintava a tinta para falar direto aos endereços dos destinatários.
Carta, envelope, selo, destino... Há um apagar dos atos mais humanos.
Com a era tecnológica chega um diluir dos gestos nossos, uma pressa na execução das tarefas de todos os dias. Cada ano que passa há avanços, mais avanços e um pouco mais de avanço.
"No sonho, na valsa, meu ritmo é sempre lento”(...)
Eu sou do tempo da fita cassete, relembrando: uma caixinha com fita magnética, própria para gravações. Do tempo do Long-play, melhor dizendo LP ou ainda, disco viniL, quando riscado, pedia a repetição da escuta até que o braço da vitrola fosse tocado, empurrado pela mão humana para prosseguir a canção. Nesse tempo a máquina ainda precisava do homem!
Mas o tempo da substituição chega voraz com seus tanques de guerra passando por cima de tradições. E a velha cadeira de balanço não tem mais lugar nas nossas calçadas. E o carteiro só entrega contas a pagar. E a conversa da boca da noite não sai mais, apenas um bocejar e a recolhida, o fechar as portas e janelas todas agora gradeadas.
E o vocabulário também sofreu distorção, para tantos, hoje eu sou apenas uma mulher retrô.
1.Citação do livro Objeto Perdido, p.105. 2004.
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