segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

TEMPESTADES DE MARÇO:

         
        Vai chover muito em Belém no mês de março. Vai chover muito na Cidade Universitária Professor José da Silveira Netto neste mês de março. Haverá trovoadas, ventos muito fortes, raios riscarão o céu da Universidade Federal do Pará.
          Se os índios Xucurus ainda aqui residissem, cantariam para apressar a tempestade que vem chegando mansamente.
          Há de crescer o índice de gotas caindo sobre a cidade e seus córregos. Preparemos nossos corpos para o respingar das gotas que o mês de março guarda para a cidade de Belém.
          As pipetas e os pluviômetos perderão sua utilidade, porque neste mês de março há de chover palavras com função poética em estado de denúncia.
         Estou lhes prevenindo, a Universidade Federal do Pará vai receber uma tempestade de denúncias literárias, porque neste mês de março o Projeto de Extensão SAPLI e Os Guardadores da Palavra Poética vão estender as redes nas salas de aula do curso de letras e o silêncio nosso de todo dia vai falar mais alto na voz de Carlos Drummond de Andrade, Jacques Prévert, Hilda Hilst, Ney Ferraz Paiva, João Cabral de Melo Netto, Viviane Mosé, Ferreira Gullar, Paulo Vieira, Mário Quintana, Marina Colasanti, Manoel de Barros e outros companheiros em uma “Literatura para acordar o mundo”.
          Enquanto isso, Antônio Carlos Jobim e Elis Regina cantarolam em um rádio qualquer do planeta:
           “São as águas de março fechando o verão
          É a promessa de vida no meu coração.”

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

RECOLHENDO AS CINZAS DA QUARTA-FEIRA

Família SAPLI ou Os Guardadores da Palavra Poética.
Alguns dias antes do carnaval me perguntou uma aluna:
      − Professora, como a senhora conheceu as teorias da Cléo Busatto?
Eu respondi, não com essas palavras, mas agora é com elas que eu esclareço a sua pergunta querida Rayane:
      − Na passagem de professora de Língua e Literatura francesa para professora de Teoria Literária na UFPA, caiu nos meus braços um programa da disciplina Fundamentos da Teoria Literária e lá, bem dentro daquele monte de conteúdos, uma luz acendeu mais brilhante. Eu estou falando da Literatura Oral que o programa desta disciplina contempla. A Cléo Busatto ainda não estava lá, naquele programa. O nome dela não estava escrito tão nítido naquele programa, mas eu quis ler as outras linhas e foi lá que eu li o nome dela. Depois fui procurar na internet, no youtube algumas propostas para a Arte de Contar Histórias e a Cléo Busatto sempre se mostrava para mim como um corpo, vestido de palavras contadas. E então, foi só dar mais um passo, e outro passo, e outro e mais outro... Descobri a sua pesquisa fantástica e conheci também a sua escrita poética: Pedro e Cuzeiro do Sul, Dorminhoco, O Florista e a Gata, Paiquerê, o paraíso dos Kaingang. O bom de tudo foi sabê-la pesquisadora e praticante da Arte Poética. Assim, a porta de tantos saberes se abria sorrindo para mim. Era a Arte de Contar Histórias sendo plantada dentro de mim. Foi com a Cléo Busatto que eu aprendi a deixar a semente nos que se permitem essa plantação.
Mais tarde, fui lembrando da minha pesquisa no mestrado e a Literatura Oral foi ganhando mais corpo, mais corpo e mais corpo. Quando vi, ela era uma senhora feita de história que se quer falada e ouvida. Passei a acreditar na literatura oral mudando o rumo de algumas vidas, foi quando dediquei meu pensar a um projeto de extensão que ajudasse os alunos do curso de letras a entender tudo isso. Foi assim que nasceu o Projeto de Extensão SAPLI: Sociedade dos Amigos da Prática Literária e as Novas Perspectivas Para a Formação do Leitor. Assim também, veio ao mundo o grupo Os Guardadores da Palavra Poética com a proposta de espalhar literatura pelo ar.
 

Guardadores da Palavra Poética, esse é o meu bloco que veste a fantasia das palavras de alguns textos e sai atendendo aos chamados, contando histórias que o mundo precisa ouvir.

Foi assim Rayane que você nasceu para a literatura oral. Você, uma Guardadora da Palavra Poética que faz a minha casa interior se encher de luz.

 

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

ELES AINDA QUEIMAM LIVROS?

FILME fahrenheit 451 CENA MULHER EM CHAMAS

(pela memória interrompida dos quase 800 mil livros queimados em Curitiba no dia 03 de fevereiro de 2013)

          De lá daquela estrela vermelha, no último dos quatro planetas telúricos no sistema solar, eles ainda se horrorizam com as nossas atitudes, sempre tão bárbaras:

− São tão estranhos, os habitantes daquele planeta!

          Disse uma voz além da Terra. E com pavor nos olhos, lia para o filho jamais dormir, um pouco da história da humanidade. E é assim que a história dos terrestres invade os olhos dos marcianos.

 − Lá, na Terra, dizem, eles levam mais tempo para aprender o que é certo. Eles não reconhecem o bem por capacidade própria. Eles ouvem os seus mandantes e acreditam neles, sem hesitar. Foi assim que ao longo dos anos, eles queimaram livros. Achavam coisa inútil, o livro!

− Mas esse não era o pensamento deles? Pergunta o pequeno marciano, desejoso de ouvir uma história mais bonita.    

− Dentro da cabeça dos terrestres, meu filho, eu te afirmo, havia um buraco, um grande buraco. A cabeça deles era revestida de pele e fios de cabelo por fora. Por dentro ela era completamente oca. Cheia de espaços esperando as ideias dos seus mandantes para ter preenchimento.

− Então para eles parecia um esforço muito grande pensar? E só por isso que eles deixavam essa tarefa para os seus mandantes. Sempre foi assim, meu pai? Ou o tempo e seus homens mudaram?     

− Meu filho, olha naquela direção. A grande bola de fogo subindo vem de um ponto da Terra, vem de Curitiba.  Na Terra, o tempo ainda devora seus homens. Se eu fosse o rei de lá, jogaria todos no Olympus Mons. Só os livros eu deixaria vivos contando o horror dessa história que não deve servir para nada, nada além de cavar tristezas bem fundas dentro dos que na Terra sobrevivem.