domingo, 13 de fevereiro de 2011

ENDEREÇO FIXO


Já faz muito tempo, devo lhes contar, que eu moro em uma Casca Protetora.
Mas o que faz uma mulher de quarenta e três anos, morar em um espaço de limites estabelecidos?
Talvez a maior das hipóteses seja: nada.
Quase absolutamente nada, é tudo o que eu faço neste pequeno espaço que até os dias de hoje eu me mantenho. E desde a infância até a mais extrema maturidade a fotografia sempre revelada é essa:

Para jogar queimada: Casca Protetora;
Para chegar e sair da escola: Casca Protetora;
Para atravessar a rua: Casca Protetora;
Para viajar sozinha: Casca Protetora;
Para sair de noite: Casca Protetora
Para dirigir automóvel: Casca Protetora;
Para viajar de barco: Casca Protetora;
Para dizer as suas dores tantas: Casca Protetora.

E quando uma parte de mim avança quebrando a Casca Protetora, uma camada mais resistente se refaz.

3 comentários:

  1. Oi professora, eu gostei muito desse texto, pois a senhora o constrói de uma forma que foge da mesmice daqueles textos com histórias sem graça. Ele é a transformação de um acontecimento em Literatura, por meio de escolhas de palavras! Um abraço.

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  2. Querida Lorena,
    Meu texto, que agora é de tantos, fica bem feliz em saber que você, vindo de uma nova safra de poetas, gostou dele.

    Um forte abraço poético para você.

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