quinta-feira, 24 de março de 2011

ENDEREÇO DO POETA:


ENDEREÇO DO POETA: Rua das Palavras, em uma cidade que parece duas. Texto tecido para a homenagem ao Poeta Paulo Nunes no I Simpósio de Literatura Paraense.
Por Giselle Ribeiro ao poeta Paulo Nunes


ESCREVER
Ao Max Martins, homo ludens

Que menino
d e s a j e i t o u
o telhado do meu sonho?


Escrever é um poema dedicado ao Max Martins, nosso também poeta. Mas hoje eu resolvi apagar a dedicatória e libertar o poema para que ele retorne ao seu autor Paulo Nunes. Para meu ato, talvez criminoso, por tirar Max Martins do cenário, eu tenho explicações que fogem do primeiro olhar o poema. Que fogem da primeira indignação do autor Paulo Nunes, ou de qualquer outro leitor desatento.
Eu explico: Escrever é um poema grandiosamente composto por três versos com a iluminura do ponto de interrogação no seu final, que também pode ser recebido como começo, e não mais final, de outra viagem. Esse indefeso ponto de interrogação, marca a abertura da dedicatória no poema. E faz, maravilhosamente, com que o poema tenha fôlego suficiente para tantas possibilidades de leitura. Assim, eu me permito apagar o nome de Max Martins para dar vez a outro poeta, que neste momento é quem desajeita o telhado do meu sonho, e o poeta que no momento presente cumpre essa tarefa, é o próprio autor, é Paulo Nunes.
Explico mais ainda o meu crime pre(meditado) contra a dedicatória do poema Escrever, esse poema é um campo minado de abertura para uma leitura polissêmica, desde o seu título Escrever, que se lança a todo poeta. Passemos agora pela sua libertadora dedicatória, quando lança Max Martins na lista dos que escrevem com a força do homo ludens, esse homem que brinca e que joga e que por isso, também poderá dar vez a outro e outro autor.
Agora sigo em direção do título desta comunicação: Endereço do poeta: rua das palavras, em uma cidade que parece duas, é lá que mora Paulo Nunes, essa é a minha certeza, porque para saber se um homem é poeta eu consulto o seu endereço. Porque poeta não mora em rua de palavra com significado unívoco. Poeta quando nasce exige uma rua plural, uma cidade que no mínimo pareça ser duas. Porque ele sabe que veio ao mundo para acender e apagar as certezas do seu leitor.
O título desta comunicação devo dizer, surgiu da leitura e releitura do livro Em Citrial: uma história que parece duas, publicado em 1986 pela SEMEC. E quando eu digo que o endereço do poeta é Rua das palavras, em uma cidade que parece duas, eu não estou sozinha com o meu acreditar, agora relembro o que disse a também escritora paraense Maria Lúcia Medeiros na contracapa do livro citado:

“ Quem quiser perseguir linhas normativas e terminais no trabalho de Branco e Paulo Jorge não vai conseguir. As possibilidades de leitura vão muito mais além. Há leitura de ilustração, de texto e ilustração, só de texto, enfim, muitas e variadas maneiras de ler essa eterna história de amor “Em Citrial.”

P.S. Escrever, poema do livro O mosquito que engoliu o boi. Belém: Paka-Tatu,2002.

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