quarta-feira, 28 de julho de 2010

PASSEIO BIBLIOGRÁFICO

Com Giselle Ribeiro



Não vou aqui definir a poesia apostando no afastamento do leitor. Não vou falar de métrica, formas, rimas ricas ou rimas pobres. Prefiro falar de respiração, alimento, sangue, vida.
Entender o que representa respirar, esse é o grande desafio. Olhar, perceber o que todos deixam escapar: a respiração é a poesia.
A poesia é uma casa sonora. E o que é uma casa, senão um espaço dividido entre outros espaços: sala, quartos, cozinha, banheiro, varanda e quintal. Assim é a poesia, ela é liberdade sob vários sons, porque ela ouve o mundo e o guarda em seus secretos compartimentos produzindo novas formas que serão cantadas pelo mundo e para o mundo.
Agora vem a mim, o ímpeto de crer que a poesia não é mais uma casa sonora. Ela é todo um País, com seus rios e afluentes, com suas regiões frias e quentes. E sua capital, é a Literatura.
Das visitas tantas que faço por esse País, trago em mim fotografias reveladas pelo meu olhar. Em Manoel de Barros, cidade de muitos portos ancorei meu peito esperançoso. Essa cidade tem seus encantos, um emaranhado de palavras loucas por liberdade, sigo essa trilha cada vez que uma dor bate à minha porta.
Fujo para Hilda Hilst quando o inverno se faz em mim, quando meu olho esquerdo estremece, quando o menor toque em mim, tem cor de agressão, ameaça, invasão... Corro horas sobre o asfalto quente das palavras desta cidade até chegar ao seu, e ao meu ponto extremo.
Tenho uma coleção de postais da cidade mais visitada, Carlos Drummond de Andrade. A cidade de muitos bosques e labirintos. Dos bosques mais antigos guardei as pedras no meio do caminho. Dos bosques mais modernos, trago comigo flores da primavera. Não sei exatamente o dia e a hora da colheita, mas sei que era manhã de setembro.
Há uma cidade feita só de mistérios, o ar dessa cidade já anuncia: em Clarice Lispector há brisa mansa capaz de entrar com suavidade em cada visitante e bem dentro dele formar um vendaval. E os rios de Clarice Lispector banham a mente dos visitantes para que toda a construção da novidade se faça nas idéias dos que por ela passam.
Um, dois, três, quatro ou até mesmo trinta de julho de dois mil e dez. Todos os dias é lícito repousar os olhos de contemplação nas cidades deste meu bom País. Atraco minha âncora, neste mês solar, na bela cidade Paulo Vieira, e meus olhos alucinados crescem e diminuem com a chegada em cada parada-página. Ponto turístico número dezenove: Memórial ao fim da infância e ponto turístico número trinta: Da guarda, paradas obrigatórias. Anuncia a voz do guia.
É esse o meu País, e nele há mais cidades que por hora não ouso lhes contar...

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