quinta-feira, 5 de julho de 2012

O EXERCÍCIO DE SER MÃE

                                          Linda Ribeiro e o exercício de ser mãe


Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora [...]

Foi isso que um dia Drummond soprou no meu ouvido. E quando se sopra no ouvido de poeta, é só esperar pra ver. De lá, há de sair outro vapor :

Eis o vapor:

Eu estou pensando agora no exercício de ser mãe.

Há semelhanças visíveis em ser mãe de gente e ser mãe de livro?

Eu aposto, todas as minhas moedas, na resposta positiva. Digo isso porque na gestação de livro temos o momento da fecundação dos impulsos que vem de fora para dentro. O que não estabelece interdição nenhuma com os impulsos que vem de dentro pra fora. O escritor literário é tão mãe quanto os outros tipo de mãe. Porque a fecundação, nos dois casos, pode ser de intensa troca.

O que isso quer dizer? Eu não entendi! Pensa o meu leitor.

E eu que vivo o meu mais novo estado de gestação de livro, reintero: na gestação de gente há o momento amoroso, o encantamento do futuro pai com a futura mãe que, algumas vezes  abrigam as suas sensações amorosas e nesse momento de abrigo, o futuro pai transfere o sêmen que enlaçará o filho(a) e este, por sua vez, será gerado no ventre da mãe, ficando lá até chegar o tempo de se aventurar no mundo, do lado de fora.

O que é um pouco parecido com a gestação de livro, pois que primeiro há o enamoramento do escritor com o seu objeto de desejo: a cidade e seus subterfúgios, as pessoas e suas reações diante da vida ou da morte, o país de origem ou até mesmo o país que nunca viu de tão perto, mas sabe reconhecê-lo por outro tipo de aproximação. Os esgotos de cada um de nós, por onde passam a nossa lama ou as nossas praças cheias de verdes árvores, pássaros cantando e brisa mansa. É assim a gestação de livro. É assim que os escritores são fecundados em um impulso que vem de dentro pra fora e de fora pra dentro.

E depois de tudo isso mãe de gente e mãe de livro esperam o dia, a hora, o momento de dar à luz ao mundo que, no princípio, era feito de treva.

Eu não sei quando o primeiro homem se tornou mãe. Mas eu sei que Homero foi mãe, quando engravidou e fez vim ao mundo a Ilíada e a Odisseia.

Para a literatura há caminhos do possível e mulher e homem se tornam mãe.

E é assim que a literatura desafia a ciência.


2 comentários:

  1. Com toda certeza,Mãe é Mãe de todo jeito.Não importa se de livro ou de gente.Parabéns Mãe de lindas e verdadeiras frases.Alguém ja te disse que vc é 10? Beijos te adoro.

    ResponderExcluir
  2. Hum... palavras doces de prima valem como crítica? É claro que valem, afinal você sabe o que dizer sempre que me lê. E quando me segue, você sabe que direção tomar. E que o dia de amanã chegue tão logo para te acolher no meu abraço assim que você pousar no aeroporto de Belém. Vamos dormir cedo para contar as horas no sonho. Risos. E a grande novidade: também te adoro.

    ResponderExcluir