sábado, 24 de novembro de 2012

APRENDENDO A LER GENTE. PRIMEIRA LIÇÃO.

A leitura do mundo precede a leitura da palavra.
                                                                                         Paulo Freire
 
      Saio de São Paulo com uma boa leitura de pessoas. Foram alguns dias em metrôs, ônibus, ruas, praças, teatro e isso tudo lendo gente. Gente parada esperando o metrô, gente andando nas ruas, gente sentada ou em pé nos coletivos daquela cidade gigante.
    Ler gente me fascina, sobretudo quando estou longe de casa, vejo as pessoas e seus gestos tão díspares da minha terra.
    Na grande São Paulo meu olhar encontra gente em pé nos coletivos e sentindo o prazer de ler. Elas parecem isoladas ou protegidas no lugar em que estão. Talvez seja em outro país, talvez seja em outra cidade, talvez seja simplesmente em um tempo muito futuro para a nossa realidade, mas a verdade é que elas foram transportadas para aquele espaço da leitura e o que era desconforto, se estabeleceu como uma boa morada.
     Por isso, meu alvo agora não é a mulher no ônibus sentada fazendo tricô, ou a outra sentada que me olha neste momento, mas a moça lendo em pé no ônibus, pois ela percebe que chegou o seu ponto, dá o sinal de parada solicitada, caminha até a porta do coletivo para esperar o motorista parar, isso tudo sem desistir da sua proteção e se mantém lendo em pé, na porta de descida daquele coletivo.
    O tempo em São Paulo dá o lucro certo para quem sabe empregá-lo.
    Ah, como eu queria que esse mundo se estendesse até o meu!

5 comentários:

  1. É impressionante como é a sua leitura de corpo e de mundo. Saber analisar tais situações requer uma sensibilidade ímpar.
    Ler suas palavras me faz parar e analisar as coisas que me redeiam. A rua, o metrô,o ônibus, os lugares publicos em geral, são como diz meu querido amigo e professor Douglas Dias, É UM IMENSO LABORATÓRIO.
    Priscila Wanzeller

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    1. Ah Priscila, minha doce professora e domadora de águas, você sabe que eu te leio de dentro da piscina e te leio nas linhas da tua sensibilidade, pois você também tem essa pele de que me fala agora. Obrigada por passar aqui e me ler baixinho. Beijos e saudades no mesmo pacote.

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  2. Sou eterno aprendiz da leitura nos coletivos de Belém. Meu momento no ônibus era um tempo perdido de olhares vagos por olhares cheio na rua. Depois passei a reciclar tantos minutos até então inúteis. Passei a ler, quando o meu tempo para estudar passou a tomar conta de tudo... Passei a ler em meu único momento de lazer limpo. Nada força é claro. Quando não dava vontade de ler, ouvia música, refletia sobre o tudo, lia as pessoas, seus olhos, seus gestos, mandava sms's de saudação para os amigos, mas ler sempre foi meu prato principal, minha gula, meu casulo dentro daquele ônibus, sentado ou, muitas vezes lotado, em pé me segurando para não cair... Sim... Me segurando no livro.

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  3. Sim,eu estava lá também.Sentada admirando a felicidade em seus olhos,então pude perceber o quanto você é especial.A maneira tímida de tirar a foto me fascinou.Se preservando o máximo.Obrigada por fazer parte de uma leitura sua.Beijos em seu coração.

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  4. Ah então foi assim? Eu lia gente e tinha gente que me lia? Risos. E beijo pra você que me abrigou em São Paulo. Obrigada pelos dias de leitura minha querida prima Raylinda.

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