sexta-feira, 7 de junho de 2013

COMO O SOL DA MEIA NOITE

Siga a seta. A direção da origem.
 Como a lua que se mostra e se esconde seguindo as suas fases. Como o sol que ilumina e aquece acompanhando algumas horas do dia e depois desemboca para o outro lado do mundo no percurso de iluminar aqui e apagar ali. Foram assim, os dois dias do minicurso "Aprendendo a ler Caracol; pequenas lições de leitura literária". Talvez nunca mais se ouça falar nisso...

Você é feito de luz e sombra.
          Mas, por dois dias houve o espaço do silêncio interno que pretendia ser preenchido com a nossa própria voz, a voz que habita os nossos porões e que se cala muito mais para ouvir o outro.
          Estabelecer contato com o avesso da pessoa: feche os olhos, apague a sua luz de fora, acenda a sua luz de dentro, se procure e se reconheça e só depois disso, acenda a luz de fora, volte pleno de você, acorde para a vida como um movimento de evolução concebido por você.
          O leitor viu mais de perto “Isso não é um livro. Isso é um Caracol”. E provou a imagem da capa, contracapa, título, ouviu a orelha falar, com suavidade, os caminhos a serem conquistados, reconheceu CL e saiu cambaleando, embriagado de outras vozes, ouviu palavras com outras funções, ditas não na nossa vida cotidiana. E dali, ele saiu embriagado de palavras que saltam do livro para a sua boca.
         E foi assim que Henrique Lobato, um dos inscritos no minicurso, roubou a voz da autora para falar do que viveu nesses dois dias:

                                    UM VAGA-LUME E UM CARACOL

Siga a seta e acenda a sombra.
                              Ela começou tirando nossos sapatos.
                              E foi deitando-nos um por um.
                              Aquietando os corpos em seu ato
                              De serenata, de momento incomum.

                              Ela veio em seu tear de palavras
                              Colocando os versos em seus lugares.
                              Subimos e descemos as escadarias
                              Nessa morada misteriosa do ser.

                              Moinho, Moinho e o dia vem chegando.
                              E assim ela foi fazendo de mim caracol
                              Interior, Interior redemoinho girando.
                              Sem dar nó, foi fazendo de nós girassóis.

                              Ao som desse hino a noite vem vindo.
                              E assim ela fez de mim um vaga-lume.
                              Negrume, negrume morada dos monstros.
                              Noite, Noite onde moram os nossos outros.

                              Laço na palavra. Não era noite nem dia.
                              Não era mais vaga-lume nem caracol.
                              Era apenas eu que voltava à rotina, era vida.
                              Mas agora existia um vaga-lume e um caracol.

                                                          ***
P.S. Depois disso, Henrique, igual a Orfeu, silenciou a autora derramando nela toda a sua emoção. E o adeus tomou conta do espaço, sem precisar ser dito.

2 comentários:

  1. As duas tardes de mini-curso foram tudo que eu não esperava, e fiquei profundamente feliz de ter sido assim. Muito além das dicas teóricas de literatura que recebi de uma forma muito carinhosa e tranquila, tivemos a oportunidade de mergulhar sem saber nadar em várias obras literárias. Sentindo a cada ato, que como em um teatro surgiam e encerravam acima de nós, as minhas imanências se agitarem e ao mesmo tempo o pensamento crítico chamar meu nome. A materialização da gratidão que todos sentimos foi o poema "Um vaga-lume e um caracol".

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  2. Henrique, você chegou naquele dia ensolarado de cortinas abertas para que a lua entrasse e se ajustasse nos nossos espaços internos. E você veio e trouxe a sua lanterna, como quem sabe de onde vem e para onde vai. Depois, no segundo dia, você veio com a tempestade e lavamos nossas almas. Foi só isso que aconteceu naquele primeiro e segundo dia de um certo minicurso. Lá conhecemos a calma de mais uma felicidade bem instalada. Obrigada por esses dois dias. Obrigada por aceitar viver esses dois dias ao meu lado e ao seu lado. Grande abraço.

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