terça-feira, 16 de julho de 2013

O SEGUNDO BEIJO OU O BEIJO MOLHADO DA Sra. WOOLF

Enquanto isso, ele beija a Sra. Woolf.
          Era um jovem, um rapazinho iniciante na arte de beijar quando a Sra. Woolf  resolveu ensiná-lo e, abrindo as suas páginas com ardor ela saltou até ele dizendo mansamente:

O Sol ainda não nascera. Era quase impossível distinguir o céu do mar, mas este apresentava algumas rugas, como se de um pedaço de tecido se tratasse. Aos poucos, à medida que o céu clareava, uma linha escura estendeu-se no horizonte, dividindo o céu e o mar. Então, o tecido cinzento coloriu-se de manchas em movimento, umas sucedendo-se às outras, junto à superfície, perseguindo-se mutuamente, sem parar.

         Esse era só um dos sucessivos beijos que ela, a Sra. Woolf, lhe daria. Ele correspondeu, ainda que o vermelho das bochechas tomasse conta de todo o seu rosto naquele momento. Ele correspondeu. Queria muito aprender a beijá-la com amor e assim, perseguiram-se mutuamente.

        E outros tantos beijos foram dados e cada beijo, um novo aprendizado. Foi assim que o jovem aprendeu a arte de beijar com ardor e com amor. Bastou a Sra. Woolf lhe dizer no ouvido e mansamente:

Quando se aproximavam da praia, as barras erguiam-se, empilhavam-se e quebravam-se, espalhando na areia um fino véu de água esbranquiçada.

          Era o beijo molhado de ondas que ela entregava às bochechas vermelhas do rapazinho e o fino véu de água esbranquiçada saia bem de dentro dele.

          Ele aprendeu a arte de beijar com amor. Ele aprendeu a gozar. Enquanto ela, a Sra. Woolf, todos os dias abria as suas páginas para a entrada dele.

          Depois dos beijos molhados desses dias, ele sempre chegava em casa afoito, apressado para largar tudo que tivera nas mãos e se entregar ao abraço dela. E desde então, a Sra. Woolf sabia que enlaçara o jovem e que os outros dias seriam sempre assim, como as ondas:

As ondas paravam e depois voltavam a erguer-se, suspirando como uma criatura adormecida, cuja respiração vai e vem sem que disso se aperceba.

11 comentários:

  1. Oi querida,

    Uau coisa boa ver Virginia através de vc, é seu aluno c/ ela ?
    E essas edições tem capas lindas parecem tecidos ...
    Surpresa boa mesmo! E aquele início caminhou comigo durante longa temporada ...

    Beijos, Elle.

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    1. Elle, minha doce Elle,

      Devo, de início, anunciar que o jovem que beija a Sra. Woolf se reconhece pelo nome de Adauto. Ele é meu aluno e amante, assim como você, da Sra. Woolf.
      Ele faz parte de uma turma de calouros maduros que entraram no curso de Letras da UFPA com suas leituras já tatuadas. Um dia eu pedi para alguns me enviarem, por e-mail, uma fotografia deles lendo, melhor dizer, tendo uma relação amorosa com um livro. E então chegou a fotografia da Merissa, moça que ilustra O Primeiro Beijo e a fotografia do Adauto, o amante da Sra Woolf . Eu gostei tanto que decidi criar a série O Beijo, umas escritas com compromisso de amor à leitura. E assim, você leu O Segundo Beijo. Se sentir vontade, leia O Primeiro Beijo e as próximas carícias. Enquanto isso, envio nessas linhas, o meu beijo para você.

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  2. Como é maravilhoso preencher-se dessa vontade louca e através de um gesto simples, mas profundo, beijar; como o céu, quando beija o mar...
    Bj,
    Rui.

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    1. Rui, meu lindo, você tem sido um beijador fiel das minhas palavras, por isso, eu te beijo nesse momento. Fecha os olhos e sente.

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    2. Profª querida, sinto-me honrado pelas palavras de afeto e amorosidade. Fico a perguntar, monologando, como poderia não beijar a sensibilidade que se mostra através da "parole", revelada, iluminada; enfim, da parole que canta encantando corações, criando emoções que dialogam com uma intimidade tão profunda com o universo, que o fim é desaguar em veredas de silenciosas intermitências, autoras de dizeres tantos...
      Bj,
      Rui Bahia Jr.

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  3. Ah, que lindo!
    Esse beijo que o aprisiona e o liberta...
    Que bom ver meu colega de turma ilustrando seu texto, dessa vez tomei coragem e comentei, sempre me intimido...
    Beijos!

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  4. Nato, meu caro, fico feliz de saber que seus olhos estão passeando por essas linhas. Quanto aos comentários, eu sempre os leio e os respondo com gratidão e você não precisa se intimidar, falar de leituras é o meu prazer. E as ilustrações da série de textos O Beijo vão continuar. Tenho uma foto da Cleidiane, sua colega, e espero a inspiração certa para ela. Ela há de chegar lá pelo 4o. beijo. Meu abraço para você, caro leitor.

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  5. Há minutos em que me arrependo de não ter clicado em outro lugar. Mas quando venho fazer uma visita no fio da vida, o tempo envergonhado se afasta e os minutos passam navegando em correntezas de tão rápidos. No final da viagem fico feliz por não perder nenhum minuto nas tuas serenatas.
    Obrigado pelos belos textos poeta.

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    1. Henrique, para onde vai a minha embarcação? Navegar no teu colo? E que assim seja para todo o sempre, porque alegria pouca é besteira. Risos e abraços meus pra você.

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  6. É, a Sra. Woolf é envolvente, o clima propício e a sensação muito boa. O beijo tem sido agradável e levará, por certo, onde os beijos costumam levar: ao envolvimento profundo. No caso desta série de Beijos, pelo que vejo aqui em seu espaço saudável, querida Giselle, levará a uma paixão coletiva.

    Muito bom!

    Dora Adriana Cunha

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  7. Esse é o meu sonho de consumo dos últimos tempos, minha querida Adriana... Queria muito que tantos outros tivessem Amor pela leitura. Pena que a maioria se perdeu no curso da história e não soube aproveitar, de forma saudável, os avanços tecnológicos... Mas eu ainda me permito sonhar e você, como leitora fiel, me permite ainda sonhar. Obrigada pela visita.

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