quinta-feira, 1 de agosto de 2013

O BEIJO DE AMOR E AS OBRIGAÇÕES DE ANE


        Jamais fui Gustav Klimt, embora naquele dia tivesse me vestido para ser dele, para ser a sua Adele ou um jardim florido feito para mais um retrato.

         Mas naquele dia eu estava deitada entre os lençóis das obrigações escolares, a obediência de te beijar com tempo certo e depois de tudo ter que contar a notícia para uma classe inteira.

          Naquele dia eu preferia ser um quadro na parede da escola. Naquele dia eu queria muito ser só “O beijo” de Klimt ou o “O Retrato de Adele Bloch-Bauer” e permanecer só ali, na parede da escola, insinuando não dizer nada e ao mesmo tempo dizendo tanto.

          Mas sempre fui obediente e me tranquei no quarto contigo e deitados experimentamos nos tocar. Passei a língua nos dedos e extasiada virava os olhos no movimento das tuas páginas também viradas. E com o forte propósito de não mais te largar, para que outras não pousassem os olhos de desejo sobre ti, mantive por todas as horas daquele dia, a porta do quarto trancada.

           Então uma voz, vinda não sei dizer de onde, me empurrou para dentro da tua boca outra vez e tantas outras vezes em um só dia.  De lá pra cá, a voz persiste me dizendo baixinho:

         : havia pouco iniciara-se o namoro e ambos andavam tontos, era o amor. O amor com o que vem junto: ciúme.

        Tudo o que eu ouvia falar de ti guardei em um cofre e joguei ao mar. Tua voz me diz, até os tempos de hoje, que é preciso te provar para te saber. É preciso te beijar como se o mundo fosse acabar ontem, porque viver é urgente. E todos os beijos devem ser iguais ao primeiro, quando a tua boca inundou a minha e:

          De olhos fechados entreabriu os lábios e colocou-os ferozmente ao orifício de onde jorrava água. O primeiro gole fresco desceu, escorrendo pelo peito até a barriga.
          Era a vida voltando, e com esta encharcou todo o seu interior arenoso até se saciar.

         Depois de tudo, eu já fui tantas, mas poucas bocas beijei com o fervor daquele primeiro beijo.  


3 comentários:

  1. É, você diz jamais ser ter sido Gustav Klimt, contudo, assim como ele, pinta bela e delicadamente. Ele, com tinta e pincéis. Você, com letras e palavras coloridas. Transmitindo encantamento por meio de um painel interessantemente elaborado.

    Dora Adriana Cunha

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    1. Nossa que comentário lindo! Você quase me convenceu Adriana, mas depois eu caí em mim e ainda prefiro ser nada. "Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. A parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo." Disse Pessoa e digo eu que também não sou nada. Abraço pra você.

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  2. A modéstia faz parte da composição das grandes pessoas. Ainda bem!
    Deus a ilumine sempre!
    Abraço,

    Adriana Cunha

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