terça-feira, 13 de agosto de 2013

TRUQUES E RETRUQUES DOS BEIJOS DE PAULO

há beijos prolongados que sempre deviam ser dados


          No beijo primeiro fomos mais cordiais. Mansamente ele foi se aproximando e mansamente eu também me fiz ser visto por ele...

          As horas que vieram depois foram marcadas pelo avanço do meu querer devorá-lo: “sugar e ser sugado”.

           Dias depois marquei encontro com ele no mesmo lugar e os beijos eram tantos que uma marcha parecia tocar sempre que a minha língua tocava na língua dele.

          Pedia aos céus para o tempo parar. Os céus não me ouviam. Então esperava ansioso o outro dia. E lá estávamos ele e eu, viciados pelo tempo todo nosso, só nosso. Um tempo todo nosso.

         Sabia que começara a perder a cabeça, porque nada mais tinha tamanho valor. Minha cabeça era povoada por ele, meus cabelos formavam ondas sonoras vindas da voz dele me falando ao ouvido. Um vendaval de frases bem arrumadas, sabedoras do que dizer, de como dizer tudo o que vira nesse mundo tão grande e entregava aos meus ouvidos, na forma reorganizada.

          Outro dia cheguei às margens daquele mesmo rio do nosso primeiro encontro e desejoso dele, procurei:

          − Paulo, você está aqui?

          − Estou no lugar que você me deixou, naufragado nesse estranho coração.

          “e quando limosa
           nuvem forasteira
         alcançou o gigante
                sem cabeça
                    fez-se
              no horizonte
                  a árvore
                  primeira.”

              De beijá-lo e beijá-lo, minha língua ficou viciada da língua dele, do truque dele. E ainda hoje, no retruque dele, insisto acomodar a minha voz. E da primeira árvore derrubada, a minha língua pede para ser as páginas escritas por ele.

2 comentários:

  1. Realmente, meu primeiro beijo com Retruque, com o poeta em carne e verso no livro, com cada poema que baforou em mim um perfume e eu o respirei e só vejo flores quando o tenho em minhas mãos... Realmente, nosso primeiro beijo foi o infinito. E sempre nossos encontros eram recheados de uma agonia de fazer tremer as mãos como que se fosse proibido ler poesia ou como se eu fizesse isso como se não houvesse mais nada a fazer nessa vida... A não ser apenas viver o retruque de Paulo. Nosso primeiro beijo foi infalível, incompreensível, inimaginável.

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  2. que bonito isso Gisele. Você sempre muito generosa com os meus poemas. Só tenho a agradecer a leitora-poeta.. mas, e principalmente, para além da arte, agradeço a minha amiga Gisele Ribeiro... um beijo querida!

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