quinta-feira, 9 de outubro de 2014

OUTUBRO ou NADA


          Tiro os óculos para ver pouco. Mas o coração também sabe enxergar. E, para isso, fuga não há. Tapo os ouvidos para não escutar. Mas o coração ouve até mesmo o que se pensou pronunciar.
          E atravessa outubro dentro de mim com o mesmo tempero de tantos outros outubros: pouco sal, quase nada de sabor.

          Vai tristeza festejar o mês vindouro que eu fico por aqui, sentada na porta do céu, esperando a Santa dos infelizes fazer a sua romaria da partida. Vou segui-la, me agarrar no seu manto, protestar, implorar que ela nunca mais volte, vou me fazer de pobre coitada, desejosa de mudança. E se nada disso resolver, vou afundar o meu navio ou quem sabe aprender a nadar?

O ANTIPENSADOR                    

Meu navio está afundando
e eu quero ficar de olhos extraordinariamente
grudados nesta paisagem.

Talvez aprenda a nadar.
Talvez aprenda a morrer.

                  Goselle  Ribeiro, outubro, 2014

 

6 comentários:

  1. Tens o poder do naufrágio e salvação do ser, poeta! Assim, e melhor seria então aprender a nadar... para a salvação da palavra.

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  2. Ah Joaninha, a tua fala inundou meus olhos. E eis que me afogo na emoção de te ouvir falar assim. Fique por alguns instantes embrulhada no meu abraço, assim eu te agradeço o dizer.

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  3. Senti o calor do abraço e o sabor da tua emoção, poeta! Fazes a vida mais bela a cada amanhecer .

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  4. Eu faço tão pouco. Só faço o que posso e o que devo, respeitando sempre os limites dos outros e o meu. Assim crescemos enquanto pessoa. Com você, por exemplo, aprendi a desejar bom dia para a vida. Esse foi um simples, mas belo aprendizado. Valeu Joaninha linda!

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  5. Todas as vezes em que o naufrágio se fizer necessário, não tenha dúvidas: ponha o navio a pique que as palavras, como as rosas, não afundam. Ou como disse o imortal trovador Luiz Otávio:

    "Às vezes o mar bravio
    nos dá lição engenhosa:
    afunda um grande navio,
    deixa boiar uma rosa..."

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  6. Eu sabia que poderia confiar essas palavras nesse espaço de diálogo. Eu sabia que de você ouviria as palavras certas para ancorar qualquer desespero em outro porto. Obrigada Juraci, anjos são anjos. Simples assim! Beijo você.

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