sexta-feira, 26 de abril de 2013

CORRESPONDÊNCIA COM SELO DO AMOR

 
          Mais uma vez volto à velha casa, no caminho ouço as vozes de outros me chamando. Antes de nascer, devo ter pedido a Deus para ter olhos que se voltam aos outros e ouvidos para ouvi-los, por isso me fez poeta com ouvidos tão grandes e olhos bem maiores, como uma pintura de Picasso.
           E os registros dos outros saem escritos no casco de um Caracol:
 
WC: MASCULINO-FEMININO
Pouco sei sobre o amor. Apenas lembro-me que o temia e o procurava.
 
          Nunca houve homem igual a Chaves. Ele lavava a louça depois do almoço. Alvejava as nossas roupas brancas e, passava também. Não me dava trabalho, o Chaves. Recolhia o lixo no final do dia. Quando o sol estava a pino, fechava as cortinas para a claridade não entrar. Chaves gostava de obscuridade. Fazia bom uso do inglês que aprendera na escola pública, quando eu esbravecia, me chamava de my little girl.
          Eu devo dizer que meu vizinho Wagner, se contorcia todo para assistir, da janela, o espetáculo da nossa felicidade.
          Wagner, meu vizinho, era jovem e forte como um búfalo. Wagner era um búfalo criado em academia, mas sempre que cuidava do jardim da sua casa, era confundido com as flores.
          Eu não entendia as iniciais W.C na bicicleta motorizada do meu vizinho Wagner.
          Um dia cheguei em casa para o almoço, com o sol a pino, vi todas as cortinas abertas e na mesa um bilhete de Chaves: my little gilr, hoje decidi seguir montado na garupa da bicicleta motorizada do Wagner e, saímos na claridade do dia. Quero abrir outras portas. Quero ser para ele, o que você foi para mim.
          Diz-se que nesse dia, a bicicleta saiu voando.
                 *******
          Esse é um dos poemas em prosa que faz parte do “Isso não é um livro. Isso é um Caracol”. Autora: Giselle Ribeiro.
          E eu lhes convido para o lançamento no próximo dia 30 de abril, no Ponto do autor da XVII Feira Pan-Amazônica do Livro, em Belém-Pará, às 18h30.

Um comentário:

  1. E de repente, a feira do livro se torna um excelente lugar, para dá a luz, e de repente a feira do livro vira uma Casa de Parto de mães com bebês tão falantes.

    Parabéns por mais esta conquista Giselle!

    OBS: Será que ''my little gilr" era mesmo girl, ou também era um boy? Rsrsrsrs
    Laura Lobato

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