quarta-feira, 6 de outubro de 2010

DE NEGRUME O BESOURO BRILHA


Eu ouvi dizer que nos Estados Unidos tem homem-bomba. Eu ouvi dizer que pregos, bolinhas de ferro e pedaços de vidro são embalados junto com a massa explosiva e formam o modelo da jaqueta do homem-bomba. Eu ouvi dizer que a hemorragia causada pelos estilhaços mata mais que o impacto da explosão de um homem-bomba. Eu ouvi dizer que um homem-bomba acredita que está fazendo a coisa certa. Eu ouvi dizer que o homem-bomba pensa que veio ao mundo para limpar a terra da sujeira humana. Eu ouvi dizer que o homem-bomba avança contra a linha de batalha do inimigo. Eu ouvi dizer que os Estados Unidos são os principais fabricantes do C-4, o explosivo plástico que o homem-bomba veste em seu desfile final. Eu ouvi dizer que um homem-bomba consegue ferir pessoas em um raio de até duzentos metros. Eu ouvi dizer que o homem-bomba é também suicida, diz adeus em meio à multidão e saí da linha da vida. E de negrume o besouro brilha...
Eu ouvi dizer que na cidade de Feliz Lusitânia tem homem-poesia. Eu ouvi dizer que de dentro da sua jaqueta saem lesmas, saem facas de duas pontas, pescoço de galo esticado e um osso emendado. Saem ruas sem cor ou corola. Eu ouvi dizer que ele tem olho que tudo vê e quando morde, morde sem dente para a dor se fingir de não doer. Eu ouvi dizer que sendo manhã, noite ou tarde ele escreve para além do que lhe arde. E de dentro da sua jaqueta explode um grito, grito de não matar. Um grito que mais parece, um grito de acordar.

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