domingo, 17 de outubro de 2010

DOS PERIGOS DA INUNDAÇÃO



Submersa. Coberta pelo mar da alegria. Vez por outra ria, em um só galope, para fugir do dever do discurso público.
Falar de amor pode doer, porque os desafetos, de outrora, não são apagados depois das tempestades. Eles ficam ali, em um outro canto, guardados, anunciando que a vida é um ciclo. Mas a alegria, em mim, prende o fôlego, com a mesma medida da tristeza. Eu sou dos extremos.
E a verdade é que eu fui parar naquela cena sem perceber o papel que me cabia. Por isso fui vestida de outra, não aquela dos cinco dias úteis da semana, não aquela que professa as teorias e fórmulas mágicas dos signos e seus significados, mas aquela que é só mulher e, que por isso, deságua nos encantos do amor.
Treze horas do dia quatorze, com intenções de vir a ser o dia quinze de outubro, a invasão das ondas mornas, já quase quentes de alegria tomavam conta desta mulher desprevenida, a mulher que por hora sou eu.
E ali estava acreditando ser só destinatária dos prazeres e dos rumores de aprendizes encantados pelas fórmulas secretas que o estudo da linguagem lhes oferecia. E apesar das braçadas que com avidez eu dava, aquelas ondas antes mornas, agora quentes me levavam ao fundo das alegrias aquosas do dia e só mesmo o chamado para o discurso público me fazia sufocar, perder o fôlego, rouquejar.
Trazida ao litoral, esqueço que jamais aprendi a nadar.
Dezoito horas e trinta minutos, as ondas voltam a bater sobre meu coração me arrastando novamente para as profundezas do que sou nos cinco dias úteis.
Sobre a minha mesa, uma rosa e um cartão escrito: Para o dia dos professores: um abraço um pouquinho demorado. Volto a me inundar na feliz alegria da profissão escolhida.

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