segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

INVERSO ou MUDANÇA DE PELE

professora Giselle Ribeiro e alunas na Universidade Federal do Pará

MUDANÇA DE PELE: Agora escritora Giselle Ribeiro entrevista Professora Giselle Ribeiro.

Escritora: Para você que é Professora de Teoria Literária, o que seria ensinar literatura em um país de poucos leitores?

Professora: Para esta pergunta, meu coração se mantém na linha de frente com o que acredito fortemente: é preciso, antes de tudo, fazer acordar o que Roland Barthes chama de Prazer do Texto.

Escritora: Então, para você é possível virar o jogo e fazer uma população teleguiada voltar a virar página por página na busca das próximas linhas de um livro?

Professora: Tudo que dorme, poderá um dia acordar. E se essa população, da qual você fala, passou por um momento de encantamento, um momento de aprender a decifrar códigos, enigmas, signos como um investigador apaixonado pelo seu ofício, como uma bordadeira que cantarola toda vez que a linha encontra o tecido e nasce uma imagem nova, e se esse momento foi sedado pela velocidade do tempo presente, esse passado, guardado e adormecido há de ter o seu tempo de abrir os olhos e espreguiçar...

Escritora: Você acredita, de verdade, no que acabou de dizer?

Professora: Acredito. Por isso me apaixono cada vez que um aluno se diz:

- É isso que eu quero para mim. Agora eu quero a literatura na minha vida.

É esse o tempo de fazer acordar o prazer do texto. E eu já vi alunos entrarem nas minhas disciplinas achando que eu era louca e depois eles se descobrem também loucos pela literatura e fazendo literatura...

ESCRITORA: Então como é a sua relação com os seus alunos?

PROFESSORA: Há um espaço certo para nós: eu sou professora e eles meus alunos e disso nós não podemos escapar. Dentro da sala de aula eu sou a professora e ser professora para mim pede muito mais que só ensinar teorias, ser professora pede o ensinamento de ser Gente, Ser Humano. É reconhecer que se pode seguir amando o que se faz. Eu amo minha profissão e bem no colo dessa minha profissão eu embalo meus alunos. Para eles eu tenho um amor, um amor que não pode ser confundido com outra coisa que não seja respeito, admiração e vontade de vê-los crescer como Gente, crescer sem ferir ninguém. Esse é o melhor dos ensinamentos que nós, professores podemos dar aos nossos alunos, os outros ensinamentos são só os fios desta teia.

ESCRITORA: Para você a teoria literária contribui para a escrita literária? Em que sentido isso pode ocorrer?

PROFESSORA: Eu já tive alunos que perceberam o enlace da teoria e da prática literária, mas também já tive alunos que se rebelaram e me perguntaram:

- Para que toda essa teoria? Esses teóricos não sabem de nada, quem sabe é o escritor. É ele que faz o acontecer da literatura.

Os que se rebelaram, desapareceram da turma, preferiram se negar a aproximação do entendimento. Devem ainda estar adormecidos. Mas os que atingiram os dois estados: o fazer literatura e o pensar a literatura, descobriram que a teoria, às vezes, traz para a literatura contribuições que podem ter sido despercebidas pelo seu autor, e, às vezes, pelos leitores. Mas a iluminura mesmo acontece quando deixamos agir de fato, a produção literária e assim poderemos ver acontecer a teoria ou tão simplesmente contestá-la.

ESCRITORA: Um verso para os que passaram pela sua vida profissional e aos que ainda virão:

PROFESSORA: Para os que passaram, os que escaparam e os que virão, eu diria que as dificuldades são só convites para sermos melhores. E para eles, tomo emprestado um verso do livro Arranjos Para Assobio, do Manoel de Barros:

“Alegria é apanhar caracóis nas paredes bichadas”

2 comentários:

  1. Quando li esse texto percebi automaticamente de onde vem uma parte das coisas nas quais acredito na minha vida. Por vezes acho meio utópico, nos dias de hoje, pensar em amor como forma de respeito, admiração e uma vontade profunda de ajudar o outro a crescer como um ser humano íntegro, como "gente" como você mesma diz no texto. Esse foi um melhores ensinamentos que absorvi na universidade de vários professores, de diferentes formas. Isso é o que de melhor eu aprendi pra minha vida. Obrigada por pensar assim, embora você não fale claramente sobre essas coisas em sala de aula, seus alunos sentem, intuem, leem esse amor em você.
    Gosto muito de você como ser humano Giselle, acho que você compreende da vida e do ser humano como poucos que conheço. Você faz parte de muita coisa que sou. Das melhores coisas!!!!

    bjs da eterna aluna de literatura da vida.
    Thays (Tarsila)

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  2. Tata, minha doce Tata, você sempre embarca nas marés do meu pensar a vida. Você é evidência que o amor pelo que se faz dá frutos muito bons. Tua passagem na minha vida profissional sempre reforça o meu acreditar que vale a pena ensinar a amar. E obrigada pela dica de dizer em sala de aula, e também pela linguagem oral, essas coisas tão valiosas. Obrigada mesmo, minha querida Tata.

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