quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

UM EU PLURAL



PROFESSORA GISELLE RIBEIRO ENTREVISTA ESCRITORA GISELLE RIBEIRO

PROFESSORA GISELLE RIBEIRO: É possível definir poesia ou para você definir poesia é crime?

ESCRITORA GISELLE RIBEIRO: Encontrar uma ÚNICA definição para a poesia é crime. Uma das coisas que a poesia pode ser, uma casa sonora. Ela é uma grande casa com uma numerosa família habitando seus compartimentos. E cada vez que a família, moradora desta casa, se movimenta a poesia se alarga para caber toda nela. Eu aposto na poesia como uma grande casa sonora porque sei que todas as portas desta casa se permitem abrir pelos seus moradores e fazer deles seus moradores mais fieis. E eles são fiéis porque foram encantados pela casa sonora. A encantação começa quando o leitor se permite ouvir todas as vozes, todos os sons que a poesia tem para ele. Outra coisa que a poesia pode ser, um guarda-roupa cheio de peças para serem usadas em todas as estações do ano, ou todas as estações do seu tempo emocional: em dias de tristeza ou alegria pura tem poesia certa para vestir. Então entre neste guarda-roupa e experimente o que melhor lhe couber em cada dia do ano.

PROFESSORA GISELLE RIBEIRO: Como acontece a criação literária para você que é poeta, com três livros já publicados?

ESCRITORA GISDELLE RIBEIRO: A criação literária pode acontecer como um espirro que lança estrelas para fora do escritor. Depois disso dito, podemos imaginar um espaço escuro que pouco, bem pouco se pode ver e, de repente acontece uma invasão de vaga-lumes. Pequenos pontos acendendo e apagando... Acendendo e apagando... Acendendo e apagando... E que dão clareza e ao mesmo tempo escondem clareza do leitor para torná-lo receptor ativo, aquele que terá vontade de acender esses vaga-lumes para saber o que estaria por trás daquela escuridão. Os três livros que eu publiquei, têm histórias diferentes e parecidas, ao mesmo tempo. O processo de criação literária é uma coisa surpreendente, pode ser um momento duradouro para atingir a maturidade poética, o tempo certo do nascer para o mundo. Mas pode ser também um espirro lançando estrelas para o espaço do leitor.

PROFESSORA GISELLE RIBEIRO: Objeto Perdido. Esse é o nome do seu primeiro livro, qual o caminho trilhado para se chegar ao título de um livro?

ESCRITORA GISELLE RIBEIRO: Às vezes o que dura mais tempo para nascer é o título de uma obra de arte. Foi assim com o Objeto Perdido. Quando o livro já tinha a formação quase total do seu corpo, a cabeça pediu para ser gerada. E foi em 1997 que recebi uma carta vinda de Paris. Minha amiga e psicóloga Léa Sales estava fazendo um curso em Paris e me mandou de presente uma carta recheada de possibilidades de pensar o título do livro. Na carta eu encontrava explicação freudiana para os nossos conflitos e estava ali o segredo para o título do livro. Por isso o trecho desta carta aparece na contracapa do livro.

PROFESSORA GISELLE RIBEIRO: E 69 durou muito tempo para o título ou a cabeça do livro também nascer?

ESCRITORA GISELLE RIBEIRO: Eu confesso que não me sinto muito confortável para tratar da pele dos meus livros. A mim sempre parece que o livro quer e deve falar por si. Há leitores que desejam comprar o 69 só pelo título, sem fazer uma leitura proposta desde a capa, melhor dizer, da coluna vertebral do livro. Antes mesmo de abrir o livro, ele já anuncia o que tem dentro dele. A viagem deve começar desde o momento da embarcação.

PROFESSORA GISELLE RIBEIRO: Pequeno Livro de Poemas Para Vestir Bem, esse é o título do seu terceiro livro lançado na XV Feira Pan-Amazônica do Livro e parece querer lançar uma nova moda. É isso?

ESCRITORA GISELLE RIBEIRO: Eu não digo que é a nova moda, mas uma moda antiga que quer retomar o seu lugar. Houve um tempo, nós o perdemos, em que se ouviam histórias antes da noite tomar velocidade e se transformar em dia. Era o tempo em que a eletricidade não violentava a nossa imaginação, o tempo que se ouvia histórias e se lia também muitas histórias como se elas fossem parte de nós. Era como se abríssemos o guarda-roupa e descobríssemos a roupa como pele nossa. Então, tomávamos emprestados os textos acreditando que naquele momento mágico, o texto nos pertencia e nós pertencíamos a ele. E havia cumplicidade!

PROFESSORA GISELLE RIBEIRO: O que você diria para a geração que tem sido violentada pela descoberta da eletricidade?

ESCRITORA GISELLE RIBEIRO: Às vezes, é preciso apagar a lua para se ver melhor.

9 comentários:

  1. Parabéns, Giselle, realmente "A encantação começa quando o leitor se permite ouvir todas as vozes, todos os sons que a poesia tem para ele" poesia e vida se encontram e encantam as almas sensíveis.

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  2. Maia, meu querido, você é do tipo raro que apaga a lua sempre que possível para se ver melhor. Obrigada pelo entendimento e recepção vindos do Mar de Portugal.

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  3. Parabéns querida Giselle, belas palavras,você é multiplamente poesia.Beijos,Elle.

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  4. Oi Giselle. Minha professora querida, você é mulher de sábias palavras!

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  5. Elle, minha doce Elle e você que não se identificou com nome, mas que me chama de professora eu devo anunciar que sempre que a poesia bate à minha porta, ela é o reflexo de tudo o que inspiro, provo, ouço, toco, vejo e assim os que me rodeiam devem saber que serão futuramente poesia.Obrigada por me ler e ler meu blog. Abraços meus pra vocês.

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  6. Olá Giselle, você acredita na possibilidade de poetas gerarem outros? Eu sim, acho que você mesmo sem saber, me gerou. Se hoje faço poemas, foi porque você me ensinou os primeiros passos. Você me ensinou a dar vida as palavras. Me ensinou a domar palavras-feras e deixá-las do jeito que não deveriam ser. Acho que sou poeta desgarrada, como aqueles filhos rebeldes que apesar da distância e da busca pela independência, continuam a ver em seus pais um exemplo, há algo que ainda os liga. Devo minha vida literária a você!Muito obrigado por me fazer existir!
    Perdoe-me por qualquer coisa e por não revelar a minha identidade.

    p.s. Poetas são ainda mais belos quando tornam pessoas comuns em encantadores de palavras.

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  7. A você que não quer se identificar, devo dizer que me emocionei com o teu dizer a minha passagem pela tua vida. Que bom que eu entrei no teu caminho escuro com as mãos cheias de vaga-lumes. E agora me apareces Sra. Domadora de Palavras, ou simplesmente, Poeta.
    E mais felicidade jorra em mim! Obrigada por esse momento.

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  8. Giselle, talvez não se lembre de mim, fui sua aluna, e como a maioria dos calouros estranhei sua metodologia mais com o passar do tempo despertei de um longo sonho. Minha mente, meu corpo, minha alma, tinham realmente despertado. Enfim, agradeço por ser uma das pessoas que me embalou para o acordar da literiedade. Embalar sim, no sentido de me impulsionar para esse novo mundo ainda não descoberto.
    Luciane.

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    1. Luciane, todos nós temos o nosso tempo. Se hoje, amanhã, daqui a dois minutos, pouco importa. O que importa mesmo é sabermos o que fazer com ele. Boa sorte nos seus encantamentos poéticos. E fico feliz por você se encontrar. Abraço bem poético pra você.

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