domingo, 26 de fevereiro de 2012

ECOS DA VALSA N° 6


Veja o vídeo e siga as pistas do texto

Feche os olhos por alguns poucos minutos. Talvez um minuto. Talvez dois minutos. Ou talvez alguns segundos sejam suficientes para você se ver dançando bem no meio da sua sala de estar. Sala de estar triste. Sala de estar alegre. Sala de estar mornamente instalado na sua vida. Ou melhor, sala de estar com a vida fervendo de grandes e boas emoções. Sala de estar louca.

Eu, por mim, posso lhes contar que pousei, na madrugada do último dia vinte e cinco, no aeroporto internacional de Belém já saudosa de tantas expressões de arte, de tantos rostos simpáticos me desejando bom dia antes de dar qualquer informação turística. Entrei em Belém leve, bem mais leve dos problemas locais. Mas antes, na introdução local, o problema climático já me situava o lugar de entrada: Srs. passageiros teremos que sobrevoar a cidade por mais quinze minutos. Por problemas climáticos não obtivemos permissão de pouso. Pronto, essa é a cidade que eu moro. A leveza adquirida em tempos de férias pede para ser peso.

Foi então que pensei em Sônia, personagem da Valsa n° 6, de Nelson Rodrigues:

“SÔNIA (aumentando progressivamente a voz, até ao grito) - Sônia!... Sônia!... Sônia!...
(para si mesma) Quem é Sônia?... E onde está Sônia? (rápida e medrosa) Sônia está
aqui, ali, em toda a parte!(recua) Sônia, sempre Sônia...(baixo) Um rosto me
acompanha... E um vestido... E a roupa de baixo...”

A peça é intimista. Uma conversa pessoal da personagem Sônia com ela mesma e o desespero de não querer ser louca, a primeira louca da família:

“O vestido que me persegue...
De quem será, meu Deus?(corre, ágil, para a boca de cena. Atitude polêmica) Mas eu não estou louca! (lá cordial) Evidente, natural!... Até, pelo contrário, sempre tive medo de gente doida!(amável e informativa, para a platéia) Na minha família, e graças a Deus, nunca houve um caso de loucura...(grita, exultante) Parente doido, não tenho!
(sem exaltação, humilde e ingênua) Só não sei o que estou fazendo aqui... (olhando em
torno) Nem sei que lugar é este. (recua, espantada; aperta o rosto entre as mãos)Tem
gente me olhando!(olha para os lados e para o alto. Lamento maior) Meu Deus, porque existem tantos olhos no mundo?”

Sônia, neste momento eu também não desejaria saber quem eu sou ou para onde eu vou. Queria mesmo era me situar na sala de estar louca de desejo de retornar à cidade de São Paulo. Seguir até a Av. Paulista com destino certo: Casa das Rosas e lá, ver Sônia com o meu rosto lindamente louco, estampado e iluminando a vida naquela Casa das Rosas.

P.S. Para os leitores que moram em São Paulo, vai a dica: Valsa n° 6, de Nelson Rodrigues com a envolvente interpretação da atriz Ligia Paula Machado, na Casa das Rosas. A peça estará em cartaz até abril. Eu se fosse você, ou até se fosse eu mesma morando em São Paulo, iria ver mais umas vezes Valsa n° 6, na Casa das Rosas. A entrada é só R$30,00 e o prazer da arte vale muito mais.

4 comentários:

  1. Prima gostei muito nós que moramos em São Paulo devido a correia diária deixamos um pouco de lado peças de teatro e a cultura em geralbeijos ja estmos com saudade.

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  2. David, meu querido primo, às vezes é preciso gritar STOP. E viver um pouco as alegrias tantas que essa cidade maravilhosa tem para entregar aos que se permitem. Pense nisso e aproveite mais e mais, na companhia da minha prima Raylinda, é claro. Abraço meu pra você querido.

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  3. Pois é meu querido... a vida nos oferece oportunidades e se ela lhe fizer essa proposta, não pense muito e vá viver o seu momento.

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